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Arquivos de minha dissertação de mestrado: AS CARTAS DE RUY BARBOSA A MARIA AUGUSTA E DE MONTEIRO LOBATO A PUREZINHA: A INTERAÇÃO POR ESCRITO E AS METÁFORAS DO AMOR

INICIO DISSERTAÇÃO

INTR_CAP_1

QUARTO CAPÍTULO

CONCLUSÃO. Dissertação

BIBLIOGRAFIA.DISSERTAÇÃO

Anexos DISSERTAÇÃO

A TROCA DE TURNOS LOBATO

HISTÓRIA DOS CORREIOS

 

ROCHA PITTA: ESTUDOS INICIAIS DE A HISTÓRIA DA AMÉRICA PORTUGUESA (I)

Estrutura do primeiro período
Estrutura do primeiro período

 

CAMPO SEMÂNTICO DA APRESENTAÇÃO DE A HISTÓRIA DA AMÉRICA PORTUGUESA

CAMPO SEMÂNTICO DA DOMINAÇÃO

América Portuguesa

SENHOR

América Portuguesa

a parte do Novo Mundo

a maior da sua Monarquia

Brasil

as suas Províncias

Estrelas

uma das maiores Regiões da terra

Monarca Supremo

Império

Príncipe

Coroa

Leis

Domínio

poderoso Cetro

Esfera Régia

superior Esfera

 

Rocha Pitta e a História da América Portuguesa

 

Ver a obra de Rocha Pitta

SENHOR.

 A AMÉRICA Portuguesa, em toscos, mas breves rasgos, busca os soberanos pés de Vossa Majestade, porque a obrigação e amor a encaminham ao Monarca Supremo de quem reconhece o domínio e recebe as Leis e a quem, com a maior humildade, consagra os votos, implorando ao Real proteção de Vossa Majestade, porque ao Príncipe, que lhe rege o Império, pertence patrocinar-lhe a História. Nela verá Vossa Majestade em grosseiro risco delineada a parte do Novo Mundo que, entre tantas do Orbe antigo que compreende o círculo da sua Coroa, é a maior da sua Monarquia. Não oferece a Vossa Majestade grandezas de outras Regiões em que domina o seu poderoso Cetro, tendo tantas que lhe tributar na do Brasil. Se o quadro parecer pequeno para a ideia tão grande, em curtos círculos se figuram as imensas Zonas e Esferas celestes; em estreito mapa se expõem as dilatadas porções da terra; uma só parte basta para representar a grandeza de um corpo; um só simulacro para simbolizar as Monarquias do Mundo: faltar-lhe-á o pincel de Timantes para em um dedo mostrar um Gigante; a inteligência de Daniel, para em uma estátua explicar muitos Impérios; mas sobra-lhe a grandeza de Vossa Majestade, em cuja amplíssima superior Esfera se estão as suas Províncias contemplando como Estrelas: só com ela pode desempenhar-se o livro; prenderá as folhas se Vossa Majestade soltar os raios, que eles alumiarão (com Reais vantagens) mais âmbitos dos que pretende ilustrar a pena, existindo esses borrões só na forma em que as luzes podem servir as trevas.

Porém, Senhor, como descrevo uma das maiores Regiões da terra, permita-me Vossa Majestade que, dos resplendores dessa própria Esfera Régia tire uma luz para iluminar as sombras dos meus escritos, sem o delicto de Prometeu em roubar um raio ao Sol, para animar o barro de sua estátua; tanto se deve pedir a um Príncipe, em tal extremo generoso, e tudo pode conceder um Monarca, como Vossa Majestade, por todos os atributos grande e tão digno de Império que, nos anos pela idade menos robustos, em tempo que vacilante o Orbe ia caindo, lhe puseram a natureza e a fortuna aos ombros, não só o peso de um Reino florente,  mas a máquina de um Mundo Arruinado. Foi Vossa Majestade o verdadeiro Atlante e a fortíssima coluna que, sustentando-o com as forças e com as disposições, lhe evitou os estragos, sendo a refulgene Coroa de Vossa Majestade Escudo de Palas para a defensa, e o seu venerado Cetro, raio de Júpiter para o respeito. A Real Pessoa de Vossa Majestade guarde Deus muitos anos.
História da América Portuguesa
História da América Portuguesa

Descrição da Bahia de Todos os Santos no século XVIII

Para quem se interessar pela obra de Nuno Marques Pereira

CAPÍTULO I
Dá o Peregrino princípio à sua narração; e trata da conversação que teve com o Ancião acerca de que todos somos Peregrinos neste mundo: e do que devemos obrar com acerto, para chegarmos à nossa pátria, que é o Céu.

Em treze graus da Linha Equinocial para o Sul, na costa da América, onde se dividiu a terra, e se recolheu o mar, fazendo uma formosa Abra, das mais espaçosas que reconhece o Orbe, em suas ribeiras: em cujo golfo, como em praça, passeiam navegando as embarcações sem mais roteiro, que a aprazível vista dos altos montes, cobertos de verdes plantas, das quais por arte de engenhos se faz o claro açúcar. Nesta bela Concha se vê uma rica pérola, engastada em fino ouro, aquela nobre, e sempre leal Cidade do Salvador, Bahia de Todos os Santos, Metrópole do Estado do Brasil: a qual teve seu princípio pelos insignes Portugueses naquele novo Empório do mundo, como largamente tratam vários Autores. Logo na entrada da Barra, em um vistoso outeiro, está edificada uma igreja da Mãe de Deus com o título da Senhora da Vitória.

Anotações de aulas: A UNIDADE PARÁGRAFO (Primeira parte)

 A UNIDADE PARÁGRAFO (Primeira parte)

Eis algumas definições de parágrafo: parte de um texto escrito que desenvolve uma ideia básica e que se inicia com mudança de linha; divisão de um texto escrito, indicada pela mudança de linha, cuja função é mostrar que as frases aí contidas mantêm maior relação entre si do que com o restante do texto; e pequena parte ou seção de discurso, capítulo etc. que forma sentido completo e independente.

O parágrafo é uma unidade de composição do texto que apresenta uma ideia principal em torno da qual outras ideias são desenvolvidas. Há parágrafos longos e parágrafos curtos. Sua extensão é determinada principalmente pelo tema,  pelo objetivo e pelo estilo. Visualmente, o início do parágrafo deve se afastar da margem esquerda do texto ou fica separado dos demais por um espaço duplo. Este texto emprega o espaço duplo entre os parágrafos. Se empregasse o afastamento da margem esquerda, ficaria assim:

               Eis algumas definições de parágrafo: parte de um texto escrito que desenvolve uma ideia básica e que se inicia com mudança de linha; divisão de um texto escrito, indicada pela mudança de linha, cuja função é mostrar que as frases aí contidas mantêm maior relação entre si do que com o restante do texto; e pequena parte ou seção de discurso, capítulo etc. que forma sentido completo e independente.

            O parágrafo é uma unidade de composição do texto que apresenta uma ideia principal em torno da qual outras ideias são desenvolvidas. Há parágrafos longos e parágrafos curtos. Sua extensão é determinada principalmente pelo tema,  pelo objetivo e pelo estilo.

O tópico, ou seja, a ideia principal, introduz o assunto, apresentando o que será desenvolvido. O tópico é constituído de várias maneiras: declaração, pergunta, divisão, conceituação ou definição.

O desenvolvimento apresenta-se na forma de enumeração, detalhamento, exemplificação, analogia, contraste, ordenação temporal, apresentação de causas e consequências, testemunho.

A conclusão, nem sempre necessária, sintetiza o que foi apresentado.

Os dois exemplos[1], a seguir, não apresentam conclusão. No exemplo 1, o tópico apresenta uma declaração; no 2, apresenta uma declaração seguida por uma divisão. O exemplo 1 desenvolve-se por meio do detalhamento da declaração. O exemplo 2 desenvolve-se pela enumeração da divisão apresentada no tópico ou ideia principal.

O símbolo tradicional da medicina consiste em um bastão com uma serpente em volta. Representa o deus da medicina da civilização grega clássica. Em todas as esculturas e representações, recuperadas nas escavações arqueológicas ou preservadas nas ruínas dos templos a ele dedicados, o deus está segurando em uma de suas mãos um bastão com a serpente.

O simbolismo do bastão e da serpente tem dividido as opiniões dos historiadores da medicina. As seguintes interpretações têm sido admitidas. Em relação ao bastão: árvore da vida, com seu ciclo de morte e renascimento; símbolo do poder, como o cetro dos reis e o báculo dos bispos;  símbolo da magia, como a vara de Moisés; apoio para as caminhadas, como o cajado dos pastores. Em relação à serpente: símbolo do Bem e do Mal, portanto da saúde e da doença; símbolo da astúcia e da sagacidade; símbolo do poder de rejuvenescimento, pela troca periódica da pele; ser ctônico, elo entre o mundo visível e o invisível. 

Os exemplos[1] 3 e 4, respectivamente, apresentam como tópico, uma divisão e uma definição.  O exemplo 3 desenvolve-se pela enumeração da divisão apresentada no tópico. O exemplo 4 desenvolve-se pela apresentação de consequências advindas da definição apresentada no tópico. Além disso, o exemplo 4 apresenta, no último período, uma conclusão.

Dentre os mais célebres médicos  da escola de Salerno citam-se: Benevenuto Grasso, autor de Practica Oculorum, um manual de doença dos olhos que foi tido como texto clássico de oftalmologia durante quinhentos anos; Giles de Corbeil, que escreveu todas as suas obras em versos. Um dos poemas, “Carmina urinarum”, é dedicado à uroscopia, um dos métodos diagnósticos mais utilizados na época. Descreveu vinte cores diferentes de urina; e Rogerius Frugardi, cuja obra, conhecida por Cyrurgia Rogerii, foi posteriormente adotada em outras escolas. Nela existe a recomendação do uso de algas marinhas no tratamento do bócio.

A medicina já foi definida como “um conjunto de verdades provisórias”. Por isso mesmo ela se presta a mudanças de conceitos e condutas, na dependência do seu estágio de desenvolvimento e do envasamento teórico de que dispõe para fundamentar a prática médica. Por outro lado, por mais científica e técnica que ela seja, jamais consegue desvencilhar-se do seu componente de subjetivismo. Torna-se, assim, campo fértil para o aparecimento de modismos.


[1] IDEM.


[1] REZENDE, J. M. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina. SP: Unifesp, 2009.

Coordenação, correlação e paralelismo, segundo Othon Moacyr Garcia

Coordenação, correlação e paralelismo[1]

 

Coordenação é um processo de encadeamento de valores sintáticos idênticos. Os elementos da frase coordenados entre si devem – em princípio pelo menos – apresentar a mesma estrutura gramatical. Ou seja, a ideias similares deve corresponder forma verbal similar. Isso é paralelismo  ou simetria de construção.

O paralelismo nem sempre é seguido, pois o uso da língua justifica outras construções. O paralelismo é uma diretriz eficaz que, muitas vezes, melhora a frase, evitando construções incorretas ou inadequadas.

Em alguns casos, como no seguinte trecho, a ausência de paralelismo não invalida a construção da frase:

                  Estamos ameaçados de um livro terrível e que pode lançar desespero nas fileiras literárias.

Os dois adjuntos de “livro” – o adjetivo “terrível” e a oração adjetiva “que pode lançar…” – coordenados pela conjunção “e” não têm estrutura gramatical idêntica. O paralelismo pode ser observado na construção  com os adjuntos paralelos:

                  Estamos ameaçados de um livro que é terrível e que pode lançar…

                  Estamos ameaçados de um livro terrível e capaz de lançar…

O mesmo julgamento se pode fazer quando se coordenam duas orações subordinadas:

Não saí de casa por estar chovendo e porque era ponto facultativo.

Aqui também se aconselha o paralelismo de construção. Do ponto de vista estilístico, é preferível que as duas orações causais tenham estrutura similar:

Não saí de casa por estar chovendo e por ser ponto facultativo.

Não saí de casa porque estava chovendo e (porque) era ponto facultativo.

Se se adotasse o processo correlativo aditivo (não sómas também),  o paralelismo seria ainda mais recomendável:

Não saí de casa  não só porque estava chovendo mas também porque era ponto facultativo.

Não saí de casa  não só por estar chovendo mas também por ser ponto facultativo.

No exemplo seguinte rompeu-se totalmente o enlace correlato, não porque se usou ponto entre os dois elementos, mas porque se deu ao segundo uma estrutura não correlata do primeiro:

A energia nuclear não somente se aplica à produção da bomba atômica ou para fins militares. Sabe-se que pode ser empregada na medicina, comunicações e para outros fins.

A estrutura do segundo período é inadequada ao contexto por não lembrar de forma alguma o enlace correlato iniciado pelo “não somente”:

A energia nuclear não somente se aplica à produção da bomba atômica ou para outros fins militares,  mas também pode ser empregada na medicina, comunicações e para outros fins.

Os outros defeitos de construção decorrem igualmente da não observância do paralelismo:

A energia nuclear não somente se aplica à produção da bomba atômica ou a outros fins militares,  mas também pode ser empregada na medicina, nas comunicações e em outros fins.

No seguinte exemplo, coordenam-se indevidamente um objeto indireto e uma oração no gerúndio:

Nosso destino depende em parte do determinismo e em parte obedecendo à nossa vontade.

Frase incorreta por falta de paralelismo. Forma mais adequada e mais simples:

Nosso destino depende em parte do determinismo e em parte da nossa vontade.


[1] GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna. Aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 2.ed. RJ. Fund. G. Vargas: 1974.

Intertextualidade – Teoria

Intertextualidade: teoria

Ana Lúcia Tinoco Cabral

Nílvia Pantaleoni

         Os dicionários definem intertextualidade como sendo a superposição de um texto a outro; a influência de um texto sobre outro que o toma como modelo ou ponto de partida, e que gera a atualização do texto citado. Verificamos dessa forma que o conceito de intertextualidade, como o próprio nome indica, diz respeito à relação que se estabelece entre textos. Na verdade, todo texto é absorção e transformação de uma multiplicidade de outros textos, o que vale dizer que não existe um texto que seja totalmente original.

Um dos exemplos mais conhecidos de intertextualidade é a que se estabelece entre dois textos: o texto-matriz e o texto-derivado, que constitui uma paráfrase do primeiro. A paráfrase define-se como o desenvolvimento do texto de um livro ou de um documento, conservando-se as idéias originais, ou ainda, o modo diverso de expressar frase ou texto, sem que se altere o significado da primeira versão. Para Samir Meserani (O Intertexto Escolar, 1995), a paráfrase sempre remete a uma obra que lhe é anterior para reafirmá-la, esclarecê-la. A reafirmação parafrástica implica concordância que, muitas vezes, a aproxima da reprodução. A paráfrase aparece com freqüência em textos literários, científicos, religiosos, e da comunicação comum. É um recurso empregado pelos falantes  nas mais variadas situações de comunicação.

Meserani divide a paráfrase em dois tipos de discurso: a paráfrase reprodutiva e a criativa:

“A paráfrase reprodutiva é que a que traduz em outras palavras um outro texto, de modo quase literal.. Dentro de limites bastante estreitos, ela serve para reiterar, insistir, fixar, explicar, precisar, expandir ou sintetizar uma mensagem – no todo ou parcialmente.”

“A paráfrase criativa é a que ultrapassa os limites da simples reafirmação ou resumo do texto original, da simples tradução literal. Neste tipo de paráfrase, o texto se desdobra e se expande em novos significados. Ainda que não discorde do texto de origem, dele se distancia, usando-o como patamar ou pretexto.”

Exemplo de paráfrase criativa

Texto-matriz

Texto original: Gonçalves Dias

 

Minha Terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá.

As aves que aqui gorjeiam

Não gorjeiam como lá.

Texto-derivado

Paráfrase: Carlos Drummond De Andrade

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos

Minha boca procura a “Canção do Exílio”.

Como era mesmo a “Canção do Exílio”?

Eu tão esquecido de minha Terra…

Ai terra que tem palmeiras

onde canta o sabiá!

Dentre as formas de se elaborar uma paráfrase, destacamos uma técnica que é muito utilizada: a paráfrase estrutural, que consiste em criar um texto a partir da estrutura de outro. Observe alguns exemplos de paráfrase estrutural:

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. (Euclides da Cunha)

O web designer é antes de tudo um criador.

A língua é um conjunto de sinais que exprimem idéias, sistema de ações e meio pelo qual uma sociedade concebe e expressa o mundo que a cerca. (Celso Cunha)

O hipertexto é um conjunto de textos que ……….

Outra forma de intertextualidade, ou seja, de retomada de textos já produzidos, é a paródia, definida pelo dicionário como sendo uma imitação cômica de uma composição literária. É uma característica que se faz cada vez mais presente nos textos atuais. O estilo de muitos jornalistas e publicitários, além de parafrástico, é também entremeado de paródias.

Para se entender uma paródia, é necessário o conhecimento do texto ou textos originais que tornaram possível a imitação. Nesse sentido, podemos afirmar que não pode existir uma paródia que não dialogue com o texto-matriz, ou seja, sempre existe entre este e a paródia o que os estudiosos da linguagem denominam intertextualidade.

Exemplo de paródia

 

Texto-matriz: O lobo e o cordeiro

Vendo um lobo que certo cordeirinho matava a sede num regato, imaginou um pretexto qualquer para devorá-lo. E embora se achasse mais acima, acusou-o de sujar a água que bebia. O cordeiro explicou-lhe que bebia apenas com a ponta dos beiços e, além disso, estando mais abaixo, nunca poderia turvar-lhe o líquido. O lobo, exposto ao ridículo, insistiu:

— No ano passado, ofendeste meu pai.

—   No ano passado, eu não tinha nascido, replicou o cordeiro.

O lobo então:

—   Defendeste-te muito bem, mas nem por isso deixarei de comer-te!

 De que vale a defesa perante quem quer fazer o mal?

Esopo, Enciclopédia Mundial de fabulas. Vol III.

Paródia

Texto derivado:  O lobo e o cordeiroEstava o cordeiro bebendo água, Quando viu refletida, no rio, a sombra do lobo. Estremeceu, ao mesmo tempo, que ouvia a voz cavernosa: “Vais pagar com a vida o teu miserável crime”. “Que crime?” — perguntou o cordeirinho tentando ganhar tempo, pois já sabia que com lobo não adianta argumentar. “O crime de sujar a água que eu bebo.” “Mas como posso sujara a água que bebes se sou lavado diariamente pelas máquinas automáticas da fazenda?” — Indagou o cordeirinho. “Por mais limpo que esteja um cordeiro é sempre sujo para um lobo.” “E vice-versa”. — pensou o cordeirinho, mas disse apenas: “Como posso sujar a sua água se estou abaixo da corrente?” “Pois se não foi você foi seu pai, foi sua mãe ou qualquer outro ancestral e eu vou comê-lo de qualquer maneira, pois como rezam os livros de lobologia, eu só me alimento de carne de cordeiro” — finalizou o lobo preparando-se para devorar o cordeirinho. “Ein moment! Ein moment” — gritou o cordeirinho traçando seu alemão kantiano. “Dou-lhe toda razão, mas faço-lhe uma proposta: se me deixar livre, atrairei para cá todo o rebanho”. Chega de conversa — disse o lobo — vou comê-lo logo, e está acabado”. “Espera aí” — falou o cordeiro — isso não é ético. Eu tenho, pelo menos, direito a três perguntas.” “Está bem” — cedeu o lobo irritado com a lembrança do código milenar da jungle. — Qual é o animal mais estúpido do mundo?” “O homem casado” — respondeu prontamente o cordeiro. “Muito bem, muito bem!” — disse o lobo, logo refreando, envergonhado, o súbito entusiasmo. “Outra: a zebra é um animal branco de listras pretas ou preto de listras brancas?” “Um animal sem cor pintado de preto e branco para não passar por burro” — respondeu o cordeirinho. “Perfeito!”— disse o lobo engolindo em seco. “Agora, por último, diga uma frase de Bernard Shaw”. “Vai haver eleições em 66” — respondeu logo o cordeirinho mal podendo conter o riso. “Muito bem, muito certo, você escapou!” — deu-se o lobo por vencido. E já ia se preparando para devorar o cordeirinho quando apareceu  o caçador e o esquartejou.

Moral: Quando o lobo tem fome não deve se meter em filosofias

Millôr Fernandes. Fábulas Fabulosas

 

A intertextualidade não é cópia nem plágio. Antigamente, antes do advento da imprensa, existia a profissão de copista. O que se passava em sua cabeça enquanto copiava os textos encomendados, não podemos imaginar, mas é provável que a sua cópia, depois alguns exemplares feitos, se tornasse automática. Podemos compará-lo à figura do projetista de filmes que, depois de passar a fita dez vezes não presta mais atenção a ela, ficando sua mente ocupada com outros pensamentos. Hoje, mesmo não sendo, copistas temos a sensação de estarmos fadados à cópia, pois parece que tudo já foi dito, já foi escrito e temos o temor de, ao escrever, não estarmos sendo autênticos, pela nítida sensação de que alguém já disse aquilo que pretendemos expressar.

Atualmente, um dos espaços mais ricos quando se pensa em intertextualidade é, sem dúvida, a Web. O hipertexto põe em jogo uma multiplicidade de textos que se intercomunicam. Quando ativamos um hipertexto, estabelecemos automaticamente uma relação entre um texto-matriz, aquele que contém o link que despertou em nós o interesse pela ampliação de informação e um texto-derivado, aquele a que o link conduz. Entretanto, não devemos confundir esse tipo de intertextualidade com a paráfrase acima mencionada. No hipertexto, os textos remetem-se uns aos outros, ou seja, intertextualizam-se pelo tema.

Quando se pensa em intertextualidade e internet, é preciso considerar também a questão do plágio: o plagiador é o indivíduo que assina como próprio o trabalho de outrem, o que naturalmente se constitui num crime. A Web, por fornecer uma infinidade de textos a todos os navegadores indiferentemente, tornou-se fonte de muitos plágios. O que ocorre, na verdade, é que não conseguimos ser sempre originais. É aqui que entra a questão da intertextualidade, quer dizer, o que existe, na realidade, é que não podemos fugir de todo conhecimento de textos que fomos acumulando durante a vida. Quando nos dispomos a escrever sobre determinado assunto, tudo o que já lemos sobre ele, automaticamente, é ativado por nossa memória, como se ela funcionasse como um grande hipertexto, ficando em sinal de alerta, e acabamos por dialogar com todos esses textos ao escrevermos o nosso.

 

Intertextualidade – Atividades

Intertextualidade: atividades

Ana Lúcia Tinoco Cabral

Nílvia Pantaleoni

O dicionário registra, para o verbete provérbio, o seguinte:

  1. Máxima breve e popular; adágio, anexim, ditado, refrão, sentença moral.
  2. Pequena comédia que tem por entrecho o desenvolvimento de um provérbio.

Provérbio é, portanto, um dito popular que contém uma mensagem que anuncia algo sobre a vida, geralmente de maneira metafórica e, algumas vezes, até irônica.

Os japoneses divulgam o seguinte provérbio: “Água à distância não apaga incêndio.” Sabendo-se que incêndio simboliza devastação, acidente muitas vezes fatal, e a água é o antídoto do fogo, uma forma de interpretar a metáfora japonesa é: enfrente seus problemas de perto.

Atividade 1: Traduza, por meio de paráfrases, o sentido contido em cada um dos seguintes provérbios:

  1. Cada macaco no seu galho.
  2. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
  3. Nem tudo o que reluz é ouro.
  4. Em casa de ferreiro o espeto é de pau.
  5. Em terra de cego, quem tem um olho é rei.
  6. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

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Atividade 2: Pelo fato de os provérbios serem máximas populares com as quais as pessoas muitas vezes, não concordam, alguns escritores gostam de ironizar, de brincar com este tema.

Observe o pequeno conto de Voltaire de Souza, em que o autor brinca com o conceito de provérbio, criando uma máxima pessoal. Em seguida, escolha um provérbio e crie, no mesmo estilo do conto, sua própria história.

VIDA BANDIDA

Licor

Voltaire de Souza

O dia dos namorados se aproxima. Mas a vida de uma jovem executiva é agitada. Corina trabalhava numa multinacional. “Não tenho tempo nem para o supermercado.” Namorava um rapaz chamado Júlio. “O que é que eu compro para ele? Ele tem tudo… não gosta de nada.” Corina passeava entre as gôndolas. Produtos finos sempre agradam ao paladar exigente. “Será que o Júlio vai gostar deste licor de anis?” A dúvida não durou muito. Entrou no supermercado o assaltante Canhoto. “Levo a garrafa. E a tua grana.” Corina deparou no porte atlético do delinqüente. Paixão imediata e correspondida. Corina não mais se preocupa em dar presentes. “Quando ele gosta, ele leva.”

O verdadeiro amor não tem data e dispensa lembrancinhas.

Folha de São Paulo. 06/06/2000.

Como escrever títulos on-line. Apontamentos das aulas de Comunicação Empresarial (2)

Como escrever títulos on-line

As exigências para títulos on-line[1] são diferentes dos títulos impressos, pois são usados de forma diferente.

 As duas principais diferenças no uso de títulos são:

Títulos descontextualizados: os títulos on-line exibidos fora de contexto. aparecem, por exemplo: como parte de uma lista de artigos; em uma lista de ocorrências de um mecanismo de busca; no menu de links favoritos de um browser ou outro recurso de navegação.  Algumas dessas situações são bastante fora do contexto, pois as ocorrências de um mecanismo de busca podem relacionar-se a qualquer tópico aleatório.

Títulos com conteúdos relacionados: mesmo quando o título é exibido com conteúdo relacionado, a dificuldade de ler on-line e a menor quantidade de informações que podem ser vistas num relance dificultam ainda mais para os usuários apreenderem o suficiente dos dados circundantes.

Na cópia impressa, o título é intimamente associado a fotos, subtítulos e ao corpo inteiro do artigo. Tudo isso pode ser interpretado num relance. On-line, uma quantidade muito menor de informações será visível na janela e mesmo essas informações são mais difíceis e desagradáveis de ler, de modo que as pessoas muitas vezes não o fazem. Enquanto passam os olhos pela lista de artigos em uma homepage, os usuários muitas vezes olham apenas os títulos destacados e pulam a maioria dos resumos.

Graças a essas diferenças, o texto do título tem de ser autônomo e fazer sentido quando o resto do conteúdo não se encontra disponível. É claro que os usuários podem clicar no título para obter o artigo completo, mas estão muito ocupados para fazê-lo para cada título que virem na internet.

Se você criar listas do conteúdo de outras pessoas, é quase sempre mais interessante reescrever seus títulos. Pouquíssimas pessoas entendem atualmente a arte de escrever micro conteúdo on-line que funcione quando colocado em outro lugar na internet. Portanto, para atender melhor aos seus usuários, você mesmo tem de fazer o trabalho.

As principais diretrizes para escrever títulos para a internet são:

  • Deixe claro do que trata o artigo em termos que se relacionem ao usuário. O micro conteúdo deve ser um resumo muito breve do macro conteúdo associado.
  • Escreva em linguagem simples: nada de trocadilhos e nada de títulos “engraçadinhos” ou “espertos”.
  • Evite gracejos que tentam levar as pessoas a clicarem para descobrir do que se trata o artigo. Os usuários não têm mais paciência para esperar,  principalmente se tiverem de fazer o download de uma página. A menos, é claro, que tenham expectativas claras do que obterão. Na cópia impressa, a curiosidade pode fazer com que as pessoas virem a página ou comecem a ler um artigo. On-line, é simplesmente muito custoso fazê-lo.
  • Pule os artigos definidos e indefinidos quando especificar o assunto em um e-mail ou títulos de página (mas inclua-os nos títulos embutidos na página). O micro conteúdo mais breve é mais fácil de ler e, já que as listas são muitas vezes em ordem alfabética, você não quer que o conteúdo seja listado, por exemplo, na letra “A” numa confusão com as várias outras páginas que começam com “A”.
  • Faça com que a primeira palavra seja importante e contenha informações, o que resultará em um melhor posicionamento nas listas em ordem alfabética e facilitará a leitura. Por exemplo, comece com o nome da empresa, pessoa ou conceito discutido no artigo.
  • Não faça com que todos as títulos de página comecem com a mesma palavra. Será difícil diferenciá-los quando se passa os olhos por uma lista.

[1] Fonte: traduzido e adaptado de Jakob Nielsen: www.useit.com