Categoria: estrutura

Arquivos de minha dissertação de mestrado: AS CARTAS DE RUY BARBOSA A MARIA AUGUSTA E DE MONTEIRO LOBATO A PUREZINHA: A INTERAÇÃO POR ESCRITO E AS METÁFORAS DO AMOR

INICIO DISSERTAÇÃO

INTR_CAP_1

QUARTO CAPÍTULO

CONCLUSÃO. Dissertação

BIBLIOGRAFIA.DISSERTAÇÃO

Anexos DISSERTAÇÃO

A TROCA DE TURNOS LOBATO

HISTÓRIA DOS CORREIOS

 

Comentários sobre Reflexões sobre a Linguagem, de Noam Chomsky (SEGUNDA PARTE)

Chomsky versus Quine

Na segunda parte da obra Reflexões sobre a Linguagem[1], no capítulo 4, Problemas e Mistérios no Estudo da Linguagem Humana, notamos que o próprio título já é argumentativo na medida em que afirma que existem problemas e mistérios quando se estuda o fenômeno da linguagem. Problemas podem ser solucionados, enquanto que, seres humanos que somos, devemos contemplar os mistérios, impotentes em resolvê-los, pelo menos, no estágio em que se encontra a lingüística.

Chomsky cria a figura de um cientista C, um “alienígena” que vem estudar os seres humanos como organismos no mundo natural. Ele é isento de nossos sistemas de valores, de nossas convicções e, de modo totalmente objetivo, empregando o método hipotético-dedutivo, vai poder checar as propostas chomskianas a respeito da linguagem. Parece-nos que C é o alter-ego do autor que, dessa forma, pode se apresentar com os atributos de objetividade e de imparcialidade para demonstrar a teoria que ele próprio havia formulado. C não aparece pela primeira vez nesta obra. Quine que será um dos críticos do trabalho de Chomsky já se refere a ele em um artigo de 1969, Reply to Chomsky, que integra a obra de Davidson e Hintikka, Words and Objections: Essays on the Work of W. V. Quine. Na realidade, Quine é considerado o filósofo norte-americano mais influente da segunda metade do século XX, continuador do pensamento de Russel e Whitehead, preocupando-se com investigações no campo da semântica e em suas relações com a lógica formal. Ele teve sua reputação consolidada com a obra Word and Object, de 1960, no entanto, tem recebido críticas pelo behaviorismo explícito que adotava naquele momento, apesar de em 1969, tentar se afastar do modelo skinneriano.

Chomsky parece “se ofender” com Quine que considera “loucura” alguns postulados de nosso autor que adotaria uma “doutrina dogmática“, desprovida de “critérios’’. Chomsky não se contém e, frequentemente durante sua resposta a Quine, o provoca. Assim, as suas restrições quanto ao método e universais linguísticos e a sua acusação genérica de loucura são completamente desprovidas de força. Mais adiante, ele continua: “Prosseguindo um pouco na discussão metodológica de Quine, consideremos novamente Quine (1972). Nesse artigo, Quine levanta objeções àquilo que classifica ‘atitude niilista em relação às disposições’. Isto parece-lhe tão estranho que acrescenta: ‘Gostaria de pensar que algo me escapa’. É de fato verdade! Basta lermos as minhas afirmações por ele citadas para compreendermos o que lhe escapa. A sua crença de que eu ‘rejeitei disposições’ fundamenta-se na minha crítica da sua definição de linguagem como um ‘complexo de disposições existentes destinadas ao comportamento verbal, no qual os falantes de uma mesma língua se assemelham necessariamente uns aos outros’.

A respeito da aquisição da linguagem, Chomsky critica a posição de Quine que afirma que a criança aprende a maior parte da língua ao ouvir os adultos e ao tentar imitá-los, postura evidentemente eivada da teoria E – R comportamentalista, e que deixa pouca abertura à produtividade criativa da linguagem, proposta por Chomsky, apesar de não poder comprová-la: Aquilo que designei algures por ‘aspecto criador da utilização da linguagem’ continua a ser para nós um mistério tal como era para os cartesianos que o discutiram, em parte, no contexto do problema dos ‘outros espíritos’.

Além disso, também critica reiteradamente a definição de língua de Quine, como um simples complexo de disposições para responder a questões, por exemplo, do tipo “dúvida-concordância” que seria um processo, um empreendimento contínuo de aprendizagem manifesta. Existem, é verdade,  disposições inatas para Chomsky, são as estruturas inatas para a aprendizagem; só que ele não pode considerar que estas disposições apresentem em seu desenvolvimento uma organização tão simplista e limitadora. Se isso fosse verdade, declara Chomsky, se uma língua é um complexo de disposições para responder numa série normal de circunstâncias, então não seria finita (a não ser que incluísse todas as línguas) mas também extremamente pequena. […] note-se que nas minhas observações não existe qualquer ‘rejeição das disposições’ mas sim de afirmações falsas ou vazias sobre disposições como, por exemplo, a afirmação de que uma língua é um complexo de disposições existentes destinadas ao comportamento verbal.

Não são apenas os trabalhos de Quine que merecem a crítica de Chomsky, todos os que, de uma forma ou de outra, se opõem à sua teoria vão sendo rechaçados por sua argumentação. E o que é interessante é que esta parte de sua obra participa do grande embate de ideias que tem caracterizado o último quartel do século XX. Finalizamos com o tributo que Chomsky presta a Descartes, considerado precursor, guardadas as devidas proporções, de suas investigações científicas: Também Descartes não poderia dizer se era um ‘cientista’ ou um ‘filósofo’ no sentido em que muitos contemporâneos utilizaram esses termos, restringindo a filosofia a um gênero de análise conceitual. Ele era, sem dúvida, ‘cientista’ e ‘filósofo’. O seu estudo das ideias inatas e da mente estão agora em causa. Como cientista pensava que podia explicar muitos aspectos do comportamento humano, e tudo o mais, em termos de príncípios mecânicos. Sentiu-se, porém, levado a postular uma segunda substância cuja essência explicaria algumas observações sobre os seres humanos (ele e outros). É justamente este afã, esta necessidade de explicar todos os fenômenos da natureza, aí incluindo-se os problemas que envolvem as teorias da aprendizagem, especificamente a aprendizagem da linguagem e sua ligação com a mente, com o espírito que tornam fundamentais os trabalhos de filósofos-cientistas como Chomsky.

 

 

[1] Chomsky, N. Reflexões sobre a linguagem. Lisboa: edições 70, 1975.

Comentários sobre Reflexões sobre a Linguagem, de Noam Chomsky (PRIMEIRA PARTE)

A faculdade de linguagem é um componente essencial da estrutura mental inata.

Este mote, Chomsky vai glosar nas reflexões que faz a respeito da linguagem e está presente nas duas partes em que se compõe a obra Reflexões sobre a Linguagem[1]. A primeira, uma transcrição elaborada pelo autor de “As Conferências de Whidden”, realizadas em 1975, é dividida em três capítulos: 1. Sobre a Capacidade Cognitiva; 2. O Objetivo da Investigação; e 3. Algumas Características Gerais da Linguagem. A segunda parte, de maior fôlego, pois nela Chomsky procura rebater as muitas críticas às suas investigações, apresenta o capítulo 4. Problemas e Mistérios no Estudo da Linguagem Humana, que, na realidade, é uma versão revista por Chomsky de um ensaio encomendado no ano anterior, 1974, a ser publicado, juntamente com os de outros especialistas da linguagem, em homenagem a Yehoshua Bar-Hillel, lógico israelita de origem polonesa, autor de Aspectos da Linguagem, 1970.

Mais de um quarto de século depois, ainda são pertinentes estas reflexões que, antes de mais nada, são corajosas por já se inserirem no contexto dos estudos pragmáticos da linguagem, subsidiados pelos filósofos da Escola de Oxford, para quem a função comunicativa da linguagem é a preponderante e que são criticados por Chomsky, que previa, é verdade, a validade do estudo do desempenho linguístico – performance – num contexto que já tivesse dado conta da competência – competence – conforme ele reafirma, no mesmo ano (1975), no famoso encontro com Piaget, quando foram confrontadas as teses do construtivismo piagetiano e do inatismo chomskiano: Esperamos construir no futuro uma teoria explicativa global do desempenho, a qual enunciará de maneira muito precisa a interação dos diferentes sistemas, entre os quais, o conhecimento da língua (competência linguística e gramática). As observações relativas ao desempenho envolvem diretamente esse sistema de explicação e, assim, de um modo indireto, os componentes que ele postula[2].

Selecionamos para esta resenha crítica o ponto de vista de Chomsky a respeito do inatismo da linguagem e, apesar de ele estar sempre se referindo a um “locutor ideal” , valemo-nos de um informante real que, no momento desse estudo, vivencia uma das mais extraordinárias experiências humanas: apossar-se do mundo por meio da aquisição da linguagem. Também, vamos seguir a argumentação de Chomsky, na segunda parte da obra, quando ele rebate as críticas que lhe foram feitas por Quine.

O inatismo da linguagem já foi discutido inúmeras vezes e parece que existe consenso entre os linguistas a este respeito. Muitas vezes, quando Chomsky era questionado a este respeito, ele argumentava dizendo que era muito natural que os seres humanos, com o desenvolvimento nitidamente superior do cérebro em relação às outras espécies animais, tivessem a capacidade inata da linguagem, comparando-a com capacidades inatas, por exemplo, dos castores que já nasciam predeterminados para construir barragens e abrigos semi-submersos.

Chomsky parte da indagação de Bertrand Russel que retoma uma interrogação milenar: Como se explica que seres humanos, cujos contatos com o mundo são breves, pessoais e limitados sejam, no entanto, capazes de saber tanto quanto na realidade sabem?[3]. A resposta de Chomsky está no conceito de uma estrutura cognitiva abstrata, criada por uma faculdade inata do espírito, representada de modo ainda desconhecido no cérebro. Sendo o espírito uma capacidade inata de formar estas estruturas cognitivas, existindo uma estrutura cognitiva específica referente à linguagem. Ela existe em nosso cérebro e, para Chomsky, ela deve ser estudada do mesmo modo como são estudados os outros órgãos físicos. Então, é o nosso organismo que tem a capacidade de construir, de desenvolver estas estruturas cognitivas, e o nome que se dá a esta capacidade inata de nosso organismo é aprendizagem. Nesse sentido, Chomsky vai especular a respeito das Teorias da Aprendizagem, já que aprender é a capacidade que o organismo tem de construir estruturas cognitivas. Ou ainda, aprender é essencialmente um problema de preencher pormenorizadamente uma estrutura inata.

Qual é o problema fundamental de uma teoria linguística TA (H, L), onde TA = teoria de aprendizagem, H = seres humanos e L = língua? De acordo com nosso pensador, é delimitar a classe de ‘sistemas passíveis de aprendizagem’ de modo a podermos explicar a rapidez, uniformidade e riqueza da aprendizagem dentro do âmbito da capacidade cognitiva. Evidentemente a hipótese da aprendizagem instantânea de uma língua é rechaçada, contudo o espaço de tempo que vai do estágio inicial a um estágio de maturação, EC (estado cognitivo alcançado na aprendizagem de uma língua) é muito rápido.

A formulação do problema da aquisição da linguagem, Chomsky faz no início da segunda parte de suas reflexões: Que espécie de estruturas cognitivas são desenvolvidas pelos seres humanos, com base na experiência, especificamente no caso da aquisição da linguagem?. A resposta ele dá logo a seguir: Estes estados das estruturas cognitivas, no caso da linguagem, passam por alterações rápidas e extensivas durante um período inicial de vida e, alcançado um estado invariável, ‘final’, este sofre depois apenas modificações de menor relevância.

Qualquer um, desde que se aplique em observar, ainda que sem rigor científico, um bebê, do nascimento até, aproximadamente dois anos, verificará a grosso modo a veracidade da hipótese chomskiana. As conclusões a que pudemos chegar ‑ e inúmeros pesquisadores já puderam constatar com rigor ‑ observando um bebê, atualmente com um ano e nove meses, corroboram a afirmação de Chomsky de que os seres humanos são dotados de um sistema inato de organização intelectual a que poderemos chamar ‘estado inicial’ do espírito. Os seres humanos estão programados para falar, desenvolvendo-se a linguagem de forma natural e rápida, se existir um ambiente favorável para o desencadeamento das funções inatas. Este ambiente favorável, que não se atrela a classe social, ou raça, ou localização geográfica, ou ainda, cultura determinada, vai fornecer informações orais e outros estímulos à criança que constituirá sua gramática numa ordem preestabelecida e num plano predeterminado geneticamente. Pela ordem, os níveis que vão sendo desenvolvidos são os seguintes: Fonêmico, Mórfico e Sintático.

O nível fonêmico começa se manifestar pelo choro que, a partir de alguns meses, já tem uma função apelativa, além da função inicial instintiva. É o mesmo choro que, por volta de um ano, aperfeiçoa-se atingindo o estágio conhecido como “manha” e que, se não é devidamente controlado pelos adultos, se transforma nas inevitáveis “birras”. A função apelativa também vai sendo desenvolvida pelo balbucio constante de sons que vão se articulando e se fixando em alguns fonemas de produção mais simples e quase sempre duplicados. É a fase do papa, mamã, vovó, vovô, teté, nenê, tite e assim por diante. Nessa fase normalmente os adultos que convivem com o bebê, acreditam que seu papel de fornecedor de matéria prima é essencial para o desenvolvimento da linguagem. No entanto, um dia o bebê vem com uma formação sonora que ninguém havia antes lhe ensinado e esta formação não é apenas um balbucio, trata-se já de um signo na concepção de Saussure, com as duas faces já estabelecidas pela criança. Significante: /bibi/ e Significado: epiderme, pele que normalmente fica sob a roupa. O signo foi decodificado pelos adultos com o auxílio do bebê, na época com pouco mais de um ano, idade em que passa a ter mais consciência do próprio corpo. Curiosamente, o repertório de palavras inventadas, alguns dias depois, é acrescido do significante: /bibi-bobó/ com o significado de automóvel. É certo, então, que as manifestações linguísticas, que as crianças recebem do seu meio, exemplificam apenas uma parte das regras gramaticais que ela acaba dominando.

O nível mórfico tem um desenvolvimento impressionante a partir de um ano e meio, com a aquisição diária de inúmeras palavras monossílabas e dissílabas, com a solicitação da criança que passa a apontar tudo o que lhe chama a atenção, assenhorando-se do mundo que a cerca, na medida em que vai lhe dando nomes. Existe para Chomsky a “ação de denominar” que é primária e isolável, as unidades lexicais estão localizadas num ‘espaço semântico’ gerado pela ação recíproca da faculdade da linguagem e de outras faculdades do espírito. Este espaço semântico – já que aprender é essencialmente um problema de preencher pormenorizadamente uma estrutura inata – vai sendo preenchido à medida que o bebê vai interagindo com o mundo. As categorias vão se formando, por exemplo, nomes de animais realmente vistos pela criança como: o hiperônimo onomatopaico “au-au” e os hipônimos ‑ nomes decães que a criança conhece: nenê, chu, mini; os hiperônimos onomatopaicos “miau” para os gatos e “piu-piu” para os passarinhos; e “pexinho” para os peixes do aquário; os animais de brinquedo e os virtuais das páginas dos livros e da tela da televisão vão aumentando incessantemente o léxico da criança.

Nesse momento, um outro nível mais complexo passa a desenvolver-se com enorme rapidez: o nível sintático. É agora que a criança vai iniciar o domínio de uma outra classe de palavras que lhe vai dar a possibilidade de formar as primeiras frases: os verbos. Os primeiros verbos, que se apresentam na terceira pessoa do singular do presente do indicativo, têm na realidade a força ilocutória da ordem, do pedido (emprestando o termo força ilocutória ou ilocucional dos atos de fala de Austin). Eis alguns exemplos: Qué mais! Num qué! Qué! Solta! Dá!. Logo em seguida, temos o emprego das primeiras perguntas, que também têm o valor de um pedido, de uma solicitação: Cadê panino? Cadê au-au? Que é isso?  Isso – a primeira palavra dêitica que tem a função de estabelecer referência entre o mundo extralinguístico e a sua representação em língua.

É interessante observar que toda elocução, nessa idade, é acompanhada por uma extraordinária expressividade da qual participam as mãos, a cabeça, o corpo todo e, que, quando seus desejos não são atendidos, o choro e o monossílabo não, pronunciado com entonações enfáticas, são os únicos argumentos que parecem conhecer. Serão o convencimento e a persuasão por meio da língua as últimas conquistas na aquisição da linguagem? É nesse momento que os primeiros atributos passam a fazer parte do léxico da criança, expressos de forma enfática e sempre antecedidos do “que exclamativo”, delineia-se já o que será futuramente a expressão de sua função emotiva: Que lindo! Que medo! Que gostoso!. Quase que concomitantemente, as primeiras asserções, isto é, as primeiras declarações a respeito do que lhe acontece e ao seu entorno, começam a se multiplicar. Os verbos ainda continuam na terceira pessoa do singular, no entanto, um novo tempo já é empregado: o pretérito perfeito. Alguns exemplos coletados de nosso informante são: Caiu! ‑ para expressar que ele própria caiu ou que derrubou alguma coisa; Foi embora! ‑ quando a gata foge às suas investidas; Bateu! – ao levar umas palmadas por mau comportamento; Voou! – quando algum passarinho bate as asas e desaparece de sua vista.

Concluindo nossas observações a respeito da aquisição da linguagem, de acordo com os postulados de Chomsky, vale lembrar que, para ele, a criança aprende a língua materna em idade na qual não aprende outros saberes tão complexos ou menos complexos que esse. Uma criança como a que acabamos de apontar, de um ano e nove meses, está saindo das fraldas, não consegue comer sozinha, sem derrubar a maior parte do alimento no trajeto do prato à boca e, se deixada no alto de uma escada, certamente sofrerá uma queda, pois seu senso de equilíbrio ainda está em formação. Ext

 

[1] Chomsky, N. Reflexões sobre a linguagem. Lisboa: edições 70, 1975.

[2]Piattelli-Palmarini, M. (org.)Teorias da Linguagem – Teorias da Aprendizagem: o debate entre Jean Piaget e Noam Chomsky. SP: Cultrix, 1979.

[3]Russel, B. Human Knowledge: Its scopes and limits. NY: George Allen and Unwin, 1948.

ROCHA PITTA: ESTUDOS INICIAIS DE A HISTÓRIA DA AMÉRICA PORTUGUESA (I)

Estrutura do primeiro período
Estrutura do primeiro período

 

CAMPO SEMÂNTICO DA APRESENTAÇÃO DE A HISTÓRIA DA AMÉRICA PORTUGUESA

CAMPO SEMÂNTICO DA DOMINAÇÃO

América Portuguesa

SENHOR

América Portuguesa

a parte do Novo Mundo

a maior da sua Monarquia

Brasil

as suas Províncias

Estrelas

uma das maiores Regiões da terra

Monarca Supremo

Império

Príncipe

Coroa

Leis

Domínio

poderoso Cetro

Esfera Régia

superior Esfera

 

Intertextualidade – Atividades

Intertextualidade: atividades

Ana Lúcia Tinoco Cabral

Nílvia Pantaleoni

O dicionário registra, para o verbete provérbio, o seguinte:

  1. Máxima breve e popular; adágio, anexim, ditado, refrão, sentença moral.
  2. Pequena comédia que tem por entrecho o desenvolvimento de um provérbio.

Provérbio é, portanto, um dito popular que contém uma mensagem que anuncia algo sobre a vida, geralmente de maneira metafórica e, algumas vezes, até irônica.

Os japoneses divulgam o seguinte provérbio: “Água à distância não apaga incêndio.” Sabendo-se que incêndio simboliza devastação, acidente muitas vezes fatal, e a água é o antídoto do fogo, uma forma de interpretar a metáfora japonesa é: enfrente seus problemas de perto.

Atividade 1: Traduza, por meio de paráfrases, o sentido contido em cada um dos seguintes provérbios:

  1. Cada macaco no seu galho.
  2. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
  3. Nem tudo o que reluz é ouro.
  4. Em casa de ferreiro o espeto é de pau.
  5. Em terra de cego, quem tem um olho é rei.
  6. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

********

Atividade 2: Pelo fato de os provérbios serem máximas populares com as quais as pessoas muitas vezes, não concordam, alguns escritores gostam de ironizar, de brincar com este tema.

Observe o pequeno conto de Voltaire de Souza, em que o autor brinca com o conceito de provérbio, criando uma máxima pessoal. Em seguida, escolha um provérbio e crie, no mesmo estilo do conto, sua própria história.

VIDA BANDIDA

Licor

Voltaire de Souza

O dia dos namorados se aproxima. Mas a vida de uma jovem executiva é agitada. Corina trabalhava numa multinacional. “Não tenho tempo nem para o supermercado.” Namorava um rapaz chamado Júlio. “O que é que eu compro para ele? Ele tem tudo… não gosta de nada.” Corina passeava entre as gôndolas. Produtos finos sempre agradam ao paladar exigente. “Será que o Júlio vai gostar deste licor de anis?” A dúvida não durou muito. Entrou no supermercado o assaltante Canhoto. “Levo a garrafa. E a tua grana.” Corina deparou no porte atlético do delinqüente. Paixão imediata e correspondida. Corina não mais se preocupa em dar presentes. “Quando ele gosta, ele leva.”

O verdadeiro amor não tem data e dispensa lembrancinhas.

Folha de São Paulo. 06/06/2000.

Levantamento estrutural da Introdução do TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL de Gabriel Soares de Sousa

 tratado descritivo do brasil
PRIMEIRA PARTE
ROTEIRO GERAL COM LARGAS INFORMAÇÕES DE TODA A COSTA DO BRASIL
PROEMIO
Como todas as cousas tem fim, convém que tenham principio, e como o de minha pretensão é manifestar a grandeza, fertilidade e outras grandes partes que tem a Bahia de todos os Santos e o demais Estado do Brasil, do que se os Reis passados tanto se descuidaram; a El-Rei Nosso Senhor convém, e ao bem do seu serviço, que lhe mostre, por estas lembranças, os grandes merecimentos d’este seu Estado, as qualidades e estranhezas dele, etc.; para que lhe ponha os olhos e bafeje com seu poder; o qual se engrandeça e estenda a felicidade, com que se engrandeceram todos os Estados que reinam debaixo da sua proteção; porque está muito desamparado depois que El- Rei D. João III passou d’esta vida para a eterna, o qual o principiou com tanto zelo, que para o engrandecer meteu nisso tanto cabedal, como é notório, o qual se vivera mais dez anos, deixara nele edificadas muitas cidades, vilas e fortalezas mui populosas, o que se não efetuou depois do seu falecimento, antes se arruinaram algumas povoações que em seu tempo se fizeram. Em reparo e acrescentamento estará bem empregado todo o cuidado que Sua Majestade mandar ter deste novo reino; pois está capaz para se edificar nele um grande império, o qual com pouca despesa destes reinos se fará tão soberano, que seja um dos Estados do mundo, porque terá de costa mais de mil léguas, como se verá por este Tratado no tocante à cosmografia dele, cuja terra é quase toda muito fértil, mui sadia, fresca e lavada de bons ares, e regada de frescas e frias águas. Pela qual costa tem muitos, mui seguros e grandes portos, para neles entrarem grandes armadas com muita facilidade; para as quais tem mais quantidade de madeira que nenhuma parte do mundo, e outros muitos aparelhos para se poderem fazer. É esta província mui abastada de mantimentos de muita substancia e menos trabalhosos que os de Espanha. Dão-se nela muitas carnes assim naturais dela, como das de Portugal, e maravilhosos pescados; onde se dão melhores algodões que em outra parte sabida, e muitos açúcares tão bons como na ilha da Madeira. Tem muito pão de que se fazem as tintas. Em algumas partes dele se dá trigo, cevada, e vinho muito bom, e em todas todos os frutos e sementes de Espanha, do que haverá muita qualidade, se Sua Majestade mandar prover nisso com muita instância, e no descobrimento dos metais que nesta terra há; porque lhe não falta ferro, aço, cobre, ouro, esmeralda, cristal e muito salitre, e em cuja costa sai do mar todos os anos muito bom âmbar; e de todas estas e outras podiam vir todos os anos a estes reinos em tanta abastança, que se escusem os que vem a eles dos estrangeiros, o que se pôde facilitar sem Sua Majestade meter mais cabedal neste Estado que o rendimento dele nos primeiros anos; com o que o pôde mandar fortificar e prover do necessário a sua defensão; o qual está hoje em tamanho perigo, que se nisso caírem os corsários, com mui pequena armada se senhorearão desta província, por razão de não estarem as povoações dela fortificadas, nem terem ordem com que possam resistir a qualquer afronta que se oferecer ; do que vivem os moradores dela tão atemorizados, que estão sempre com o fato entrouxado para se recolherem para o mato, como fazem com a vista de qualquer nau grande, temendo-se serem corsários; a cuja afronta Sua Majestade deve mandar acudir com muita brevidade; pois há perigo na tardança, o que não convém que haja; porque se os estrangeiros se apoderarem desta terra custará muito lançá-los fora dela, pelo grande aparelho que tem para nela se fortificarem, com o que se inquietará toda Espanha, e custará a vida de muitos capitães e soldados, e muitos milhões de ouro em armadas e no aparelho delas, ao que agora se pode atalhar acudindo-lhe com a presteza devida. Não se crê que Sua Majestade não tenha a isto por falta de providencia, pois lhe sobeja para as maiores empresas do mundo; mas de informação do sobredito, que lhe não tem dado quem disso tem obrigação. E como a eu também tenho de seu leal vassalo, satisfaço da minha parte com o que se contém neste Memorial, que ordenei pela maneira seguinte.

Levantamento estrutural da Introdução do TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL de Gabriel Soares de Sousa

Levantamento estrutural da Introdução do TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL de Gabriel Soares de Sousa

LEVANTAMENTO ESTRUTURAL da PRIMEIRA PARTE da CARTA do PADRE MANUEL DA NÓBREGA ao INFANTE CARDEAL D. HENRIQUE (1560)

CARTA do PADRE MANUEL DA NÓBREGA ao INFANTE CARDEAL D. HENRIQUE (1560).

Padre Manuel da Nóbrega
Padre Manuel da Nóbrega

Ao INFANTE CARDEAL (D. HENRIQUE)

Conversão do Gentio. — Christãos e índios da Bahia. — Guerra dos Ilhéos. — Os índios do Paraguaçú. — Pazes. — Chegada de uma armada á Bahia. — Men de Sá. — Vasco Fernandes Coutinho. — Conquista ão Rio de Janeiro. — Francezes. — Guerra aos índios.

PAZ de Christo Nosso Senhor seja sempre em continuo favor e ajuda de Vossa Alteza.O anno passado de 1559 me deram uma de Vossa Alteza em que me manda que lhe escreva e avise das cousas desta terra, que elle deve saber. E pois assim m’o manda, lhe darei conta do que Vossa Alteza mais folgará de saber, que é da conversão do Gentio, a qual, depois da vinda deste governador Men de Sá, cresceu tanto que por falta de operários muitos deixamos de fazer muito fructo, e todavia com esses poucos que somos, se fizeram quatro egrejas em povoações grandes, onde se ajuntou muito numero de Gentio, pela boa ordem que a isso deu Men de Sá, com os quaes se faz muito fructo, pela sujeição e. obediência que têm ao Governador, e em mentes durar o zelo delle se irão ganhando muitos; mas, cessado em breve se acabará tudo, ao menos entretanto que não têm ainda lançadas boas raizes na Fé e bons costumes.

ESTUDO ESTRUTURAL da PRIMEIRA PARTE: Conversão do Gentio

Estudo estrutural da Primeira Parte da cara da padre Manuel da Nóbrega ao Infante Cardeal D. Henrique (1560)
Estudo estrutural da Primeira Parte da cara da padre Manuel da Nóbrega ao Infante Cardeal D. Henrique (1560)