Mês: outubro 2013

Variedades linguísticas: norma, correção e adequação. Apontamentos das aulas de Comunicação Empresarial (1)

I – Variedades linguísticas: norma, correção e adequação

Nílvia Pantaleoni

O uso adequado e eficaz da língua, nas mais variadas situações de comunicação, pressupõe uma competência pragmático-utilitária que emerge, não só da utilização de normas e convenções, mas também da conveniência de se distinguir entre uma variedade erigida em norma-padrão, institucionalmente reconhecida como tal, e outras variedades geográfica e socialmente diferentes e legítimas.[1]

 

A variação linguística existe, não podemos ignorar sua riqueza. A marca da diversidade deve ser considerada como algo positivo e ser incorporada aos nossos hábitos linguísticos à medida que nos adequamos ao momento interativo, ou seja, à situação comunicativa. Aliás, a adequação à situação comunicativa incorpora-se entre as máximas conversacionais, regidas pelo princípio de cooperação postulado pelo filósofo da linguagem H.P. Grice.

Grice observa que os falantes seguem um princípio cooperativo geral que orienta os usos eficientes da língua. Numa conversa e, podemos também dizer, numa interação por escrito, ou via internet, os interlocutores guiam-se – mesmo que disso não tenham consciência – por máximas da qualidade, da quantidade, da relevância e do modo. É evidente que elas são frequentemente desobedecidas, mas, num plano ideal, os interlocutores são cooperativos.

Como se dá essa cooperação entre os interlocutores? Como eles podem contribuir com o outro?

Falando só o que é verdadeiro, ou o que eles imaginam que seja verdade (máxima da qualidade); contribuindo com a informação necessária, não mais do que isso (máxima da quantidade); além disso, suas contribuições devem ser relevantes para o propósito da comunicação (máxima da relevância); e, o que mais nos interessa no momento, já que estamos tratando da variedade, da adequação e da correção linguística, ele deve ser claro, evitando a ambiguidade e a falta de clareza (máxima do modo).

Não é adequado o médico que, durante uma consulta, num posto de saúde, usa seu incompreensível jargão para se dirigir ao seu paciente, completamente leigo em assuntos de medicina. Ele será menos adequado ainda, e também extremamente inconveniente se tentar imitar, muitas vezes jocosamente a variante linguística de seu paciente. A adequação à situação comunicativa é perfeitamente possível, e, na maioria dos casos, esta adaptação acontece pelo fato de existir uma espécie de linguagem comum que todos os falantes dominam.

Dino Preti[2] afirma que uma linguagem comum do ponto de vista geográfico, usada, em tese, pelos falantes urbanos de cultura média, empregada no dia-a-dia, contribui para a unificação dos falares regionais, porque é compreensível em todas as regiões do país.

Nas aulas de Comunicação Empresarial, o que deve ser estudado? O que é adequado? Com certeza, não se ensina gramática normativa. Pressupõe-se que o aluno fale e escreva com segurança, pois deve dominar essa linguagem comum.

O aluno deve sentir-se seguro para se expressar em seus trabalhos por escrito produzindo, por exemplo, resumos, resenhas, relatórios, projetos, isto é, gêneros onde predominam seqüências tipológicas ou tipos textuais expositivo-argumentativos em geral, preocupando-se com a clareza, a concisão, a organização de seu texto, não perdendo de vista o interlocutor de seu texto que, na vida universitária, é quase sempre o professor e também seus colegas.

Também nas situações comunicativas orais, isto é, em seminários, apresentações de trabalhos e debates, alguns cuidados não só com o falar, como também com o agir em público devem ser levados em consideração. Para isso existem técnicas; a simpatia  de quem está ouvindo liga-se com o ethos de quem está falando. Falar bem, em voz alta, clara, pausada e convincente, por exemplo, faz parte da adequação à situação comunicativa de um seminário que os alunos preparam antecipadamente.

Participar de discussões e debates não é entrar num bate-boca para defender a todo custo seu ponto de vista, também não é ficar calado, alheio ao que acontece, querendo que tudo termine logo, porque nada daquilo lhe interessa. Participar de uma discussão é querer demonstrar seu ponto de vista aos seus interlocutores e, mais que isso, é tentar persuadi-los com a força de sua argumentação. Finalmente, também é saber ouvir e respeitar o ponto de vista do outro.

Nas aulas de Comunicação Empresarial, você aprimora suas técnicas de leitura, interpretação e produção de textos. Se você tem dificuldades específicas para se expressar por escrito, ou mesmo, oralmente, não perca a oportunidade de se dirigir ao professor que sempre tem material-extra com conteúdos específicos e exercícios que podem eliminar dúvidas. Não podemos ignorar que a educação linguística de qualquer falante nativo inicia-se na esfera íntima do lar, continua nas esferas públicas, abertas. Finalmente, o espaço ideal para o desenvolvimento da educação linguística são as instituições de ensino que aperfeiçoam, hierarquizam e rotulam as mais diversas atividades lingüísticas sociocomunicativas.

O que importa em relação à ética linguística que procuramos observar na instituição escolar, esperando que continue em qualquer situação nas diversas esferas das atividades humanas, é o respeito que devemos ter com o direito linguístico que todo cidadão possui de falar sem ser discriminado e, como alunos que têm como meta o aprimoramento de competências e a aquisição de novas habilidades, importa o crescimento como leitores, falantes e autores na língua que lhes pertence por direito de nascimento.

A língua portuguesa não é fácil nem difícil, mas é um idioma com potencialidades tamanhas que nem os imortais acadêmicos conhecem integralmente. Uma parcela de sua riqueza, de sua diversidade a qual estamos acostumados todos os dias, em todos os lugares, nas mais diversas situações, será tema de outros textos de Comunicação Empresarial, pelo menos, por dois motivos: como futuro profissional, o conhecimento da heterogeneidade da língua portuguesa é fundamental. Por isso, citando Evanildo Bechara, devemos ser poliglotas em nossa própria língua; e como falantes nativos de português que têm consciência de que devem ser cooperativos com seus interlocutores, devemos respeitar a situação comunicativa em que estamos inseridos.

Com os amigos, no trabalho, em casa, na rua, nos corredores da universidade, na sala de aula, nos trabalhos escritos, em uma comunicação mais formal, nos bate-papos da Internet. Cada tempo, cada ambiente, cada situação pede o uso de uma variação. O importante é que não nos esqueçamos da linguagem comum, informal, usada, em tese, pelos falantes urbanos de cultura média, empregada no dia-a-dia, para as situações mais frequentes de nosso cotidiano. Também é importante ter consciência de que a leitura de textos acadêmicos e a produção de trabalhos que o estudante universitário realiza são orientados pela variedade considerada culta da língua portuguesa, quando se emprega a linguagem dita formal.


[1] Guimarães, E. in: Dino Preti e seus temas: oralidade, literatura, mídia e ensino. SP: Cortez, 2001.

[2] Preti, Dino. Sociolinguística: Os Níveis de Fala. SP: Cortez, 2000.

Para testar suas habilidades de leitor proficiente

Para testar suas habilidades de leitor proficiente, tente preencher as lacunas do Primeiro Capítulo da Obra de Antonil

Você confere as respostas logo abaixo, neste mesmo post. Boa sorte!

Se preferir, baixe o arquivo.

 

0 ser  01 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, é título, a que muitos aspiram, porque traz consigo, o ser servido, obedecido, e respeitado de muitos.  E se for, qual deve ser, 02  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx; bem se pôde estimar no Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionadamente se estimam os títulos entre os 03  xxxxxxxxxxxxxxxxx Reino. Porque engenhos há na  04  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que dão ao senhor quatro mil 05  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, e outros pouco menos, com cana obrigada à 06  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, de cujo rendimento logra o 07  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx ao menos a metade, como de qualquer outra, que nele livremente se mói: e em algumas partes ainda mais que a metade.

Dos senhores dependem os 08  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que tem 09  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx arrendados em terras do mesmo 10  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, como os cidadãos dos fidalgos: e quanto os senhores são mais possantes, e bem aparelhados de todo o necessário, afáveis, e verdadeiros; tanto mais são procurados, ainda dos que não tem a 11  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx cativa, ou por antiga obrigação, ou por preço que para isso receberão.

Servem ao senhor de engenho em vários 12  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, além dos 13  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que têm nas fazendas e na moenda, e fora os mulatos e mulatas, negros e negras de casa ou ocupados em outras partes; barqueiros, canoeiros, calafates, carapinas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores. Tem mais cada senhor destes, necessariamente, um mestre de açúcar, um banqueiro, e um contrabanqueiro, um purgador, um caixeiro no engenho, e outro na cidade, feitores nos partidos, e roças, um feitor-mor do engenho: e para o espiritual, um 14   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx; e cada qual destes oficiais tem 15   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.

Toda  a escravatura  (que nos maiores engenhos passa o número de cento e cinquenta, e duzentas peças, contando as dos partidos),  quer mantimentos  e  fardas,  medicamentos,  enfermaria   e enfermeiro;  e para  isso  são  necessárias  16   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx de muitas mil covas de 17  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. Querem os 18   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, velames, cabos, cordas, e breu. Querem as 19   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que por sete, ou oito meses ardem de dia, e de noite, muita lenha; e para isso há mister dous barcos velejados, para se buscar nos portos, indo um atrás do outro sem parar, e muito dinheiro para a comprar; ou grandes matos, com muitos carros e muitas juntas de boi para se trazer. Querem os canaviais também suas barcas, e carros com dobradas esquipações de bois. Querem enxadas, e fouces. Querem as 20   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx machados e serras. Quer a moenda de toda a casta de paus de lei de sobressalente, e muitos quintais de aço e de ferro. Quer a 21   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx madeiras seletas e fortes para esteios, vigas, aspas e rodas; e pelo menos os instrumentos mais usuais, a saber; serras, trados, verrumas, compassos, réguas, escopros, enxós, goivas, machados, martelos, cantins, e junteiras, pregos e plainas. Quer a fábrica do 22   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx paróis e caldeiras, tachas e bacias, e outros muitos instrumentos menores, todos de cobre; cujo preço passa de oito mil cruzados, ainda quando se vende, não tão caro como nos anos presentes. São finalmente necessárias além das senzalas dos escravos, e além das moradas do capelão, feitores, mestre, purgador, banqueiro e caixeiro, uma 23   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx decente com seus ornamentos, todo o aparelho do altar e umas casas para o senhor do engenho com seu quarto separado para os 24   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que no Brasil, falto totalmente de estalagens, são contínuos; e o edifício do 25   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, forte e espaçoso, com as mais oficinas, e casa de purgar, caixaria, alambique, e outras cousas, que por miúdas aqui se escusa apontá-las, e delas se falará.

O que tudo bem considerado, assim como obriga a uns homens 26   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx a quererem antes ser 27   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx possantes de cana com um ou dous partidos de mil 28   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, com trinta ou quarenta 29 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx; do que ser  30 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx por poucos anos com a lida, e atenção que pede o governo de toda essa fábrica; assim, é para pasmar, como hoje se atrevem tantos a levantar 31   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, tanto que chegarão a ter algum número de escravos, e acharão quem lhes emprestasse alguma quantidade de  32   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx para começar a tratar de uma obra, de que não são capazes por falta de 33   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx; e muito mais por ficarem logo na primeira 34   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx tão empenhados com  35   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que na segunda, ou terceira já se declaram perdidos: sendo juntamente causa, que os que fiaram deles, dando-lhes fazenda e dinheiro, também quebrem e que outros zombem da sua mal fundada  36   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que tão depressa converteu em palha seca aquela primeira verdura de uma aparente, mas enganosa esperança.

E ainda que nem todos os 37   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx sejam reais, nem todos puxem por tantos gastos, quantos até aqui temos apontado: contudo, entenda cada qual, que com as mortes, e com as secas que de improviso apertam e mirram a 38   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx e com os desastres, que a cada passo sucedem, crescem os gastos mais do que se cuidava. Entenda também, que os 39   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx e outros oficiais desejosos de ganhar a custa alheia lhe facilitarão tudo de tal sorte, que lhe parecerá o mesmo levantar um engenho, que uma 40   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx de negros; e quando começar a ajuntar os aviamentos, achará ter já despendido tudo quanto tinha antes de se pôr pedra sobre pedra, e não terá com que pagar as soldadas, crescendo de improviso os gastos, como se fossem por causa das enxurrada dos 41  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.

Também se não tiver capacidade, modo, e agência que se requer na boa disposição e governo de tudo, na eleição dos 42   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, na boa correspondência com os lavradores, no trato da gente sujeita na conservação e compra das 43   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que possui, e na verdade e pontualidade com os mercadores, e outros seus correspondentes na praça, achará confusão, e ignorância no título de 44   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, , donde esperava acrescentamento de estimação, e de crédito. Por isso, tendo já fatiado do que pertenceu ao 4   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que há de ter, tratarei agora de como se há de haver no governo; e primeiramente da compra, e conservação das 46   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, e seus arrendamentos aos lavradores que tem; e logo da eleição dos oficiais que há de admitir ao seu serviço, apontando as obrigações, e as 47   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx de cada um deles, conforme o estilo dos engenhos reais da 48   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, e ultimamente do governo doméstico da sua 49   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, filhos, e escravos; recebimento dos hospedes, e pontualidade em dar satisfação a quem deve ; do que depende a conservação do seu crédito, que é o melhor 50   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx dos que se prezam de honrados.


 

açúcar

Bahia

Bahia

barcos

bastante cabedal e de bom juízo

cabedal

cabedal

cana

cana

capela

carpintaria

dinheiro

dívidas

engenho

engenho

engenho

engenhocas

engenhos

escravos de enxada e fouce

escravos de enxada e fouce

família

feitores e oficiais

fidalgos do Reino

fornalhas

governo e diligência

homem de cabedal e governo

hóspedes

lavradores

lavradores

mandioca

moenda

ofícios

pães de açúcar

pães de açúcar

partidos

pedreiros e carapinas

presunção

rios

roças

sacerdote seu capelão

safra

senhor de engenho

senhor de engenho

senhores de engenhos

senzala

serrarias

soldada

soldadas

terras

terras

 Atenção:

Cabedal: Conjunto de bens e riquezas materiais; capital

Soldada: Quantia que se paga a um trabalhador por um serviço; soldo

 

Respostas:

22

açúcar

04

Bahia

48

Bahia

18

barcos

26

bastante cabedal e de bom juízo

45

cabedal

50

cabedal

11

cana

38

cana

23

capela

21

carpintaria

32

dinheiro

35

dívidas

07

engenho

10

engenho

25

engenho

31

engenhocas

37

engenhos

13

escravos de enxada e fouce

29

escravos de enxada e fouce

49

família

42

feitores e oficiais

03

fidalgos do Reino

19

fornalhas

33

governo e diligência

02

homem de cabedal e governo

24

hóspedes

27

lavradores

01

lavradores

17

mandioca

06

moenda

12

ofícios

05

pães de açúcar

28

pães de açúcar

09

partidos

39

pedreiros e carapinas

36

presunção

41

rios

16

roças

14

sacerdote seu capelão

34

safra

01

senhor de engenho

44

senhor de engenho

30

senhores de engenhos

40

senzala

20

serrarias

15

soldada

47

soldadas

43

terras

46

terras

 

Primeiro Capítulo da obra de Antonil “Cultura e Opulência do Brasil”

 

Antonil

Texto completo no site Brasiliana USP

LIVRO PRIMEIRO

CAPÍTULO PRIMEIRO

Do cabedal que há de ter o senhor de um engenho real

0 ser senhor de engenho, é título, a que muitos aspiram, porque traz consigo, o ser servido, obedecido, e respeitado de muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal, e governo ; bem se pôde estimar no Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionadamente se estimam os títulos entre os fidalgos do Reino. Porque engenhos há na Bahia, que dão ao senhor quatro mil pães de açúcar, e outros pouco menos, com cana obrigada à moenda, de cujo rendimento logra o engenho ao menos a metade, como de qualquer outra, que nele livremente se mói: e em algumas partes ainda mais que a metade.


Dos senhores dependem os lavradores, que tem partidos arrendados em terras do mesmo engenho, como os cidadãos dos fidalgos: e quanto os senhores são mais possantes, e bem aparelhados de todo o necessário, afáveis, e verdadeiros; tanto mais são procurados, ainda dos que não tem a cana cativa, ou por antiga obrigação, ou por preço que para isso receberão.

Servem ao senhor de engenho em vários ofícios, além dos escravos de enxada e fouce, que têm nas fazendas e na moenda, e fora os mulatos e mulatas, negros e negras de casa ou ocupados em outras partes; barqueiros, canoeiros, calafates, carapinas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores. Tem mais cada senhor destes, necessariamente, um mestre de açúcar, um banqueiro, e um contrabanqueiro, um purgador, um caixeiro no engenho, e outro na cidade, feitores nos partidos, e roças, um feitor-mor do engenho: e para o espiritual, um sacerdote seu capelão; e cada qual destes oficiais tem soldada.

Toda a escravatura (que nos maiores engenhos passa o número de cento e cinquenta, e duzentas peças, contando as dos partidos), quer mantimentos e fardas, medicamentos, enfermaria, e enfermeiro; e para isso são necessárias roças de muitas mil covas de mandioca. Querem os barcos, velames, cabos, cordas, e breu. Querem as fornalhas, que por sete, ou oito meses ardem de dia, e de noite, muita lenha; e para isso há mister dous barcos velejados, para se buscar nos portos, indo um atrás do outro sem parar, e muito dinheiro para a comprar; ou grandes matos, com muitos carros e muitas juntas de boi para se trazer. Querem os canaviais também suas barcas, e carros com dobradas esquipações de bois. Querem enxadas, e fouces. Querem as serrarias machados e serras. Quer a moenda de toda a casta de paus de lei de sobressalente, e muitos quintais de aço e de ferro. Quer a carpintaria madeiras seletas e fortes para esteios, vigas, aspas e rodas; e pelo menos os instrumentos mais usuais, a saber; serras, trados, verrumas, compassos, réguas, escopros, enxós, goivas, machados, martelos, cantins, e junteiras, pregos e plainas. Quer a fábrica do açúcar paróis e caldeiras, tachas e bacias, e outros muitos instrumentos menores, todos de cobre; cujo preço passa de oito mil cruzados, ainda quando se vende, não tão caro como nos anos presentes. São finalmente necessárias além das senzalas dos escravos, e além das moradas do capelão, feitores, mestre, purgador, banqueiro e caixeiro, uma capela decente com seus ornamentos, todo o aparelho do altar e umas casas para o senhor do engenho com seu quarto separado para os hóspedes, que no Brasil, falto totalmente de estalagens, são contínuos; e o edifício do engenho, forte e espaçoso, com as mais oficinas, e casa de purgar, caixaria, alambique, e outras cousas, que por miúdas aqui se escusa apontá-las, e delas se falará.

O que tudo bem considerado, assim como obriga a uns homens de bastante cabedal e de bom juízo a quererem antes ser lavradores possantes de cana com um ou dous partidos de mil pães de açúcar, com trinta ou quarenta escravos de enxada e fouce; do que ser  senhores de engenhos por poucos anos com a lida, e atenção que pede o governo de toda essa fábrica; assim, é para pasmar, como hoje se atrevem tantos a levantar engenhocas, tanto que chegarão a ter algum número de escravos, e acharão quem lhes emprestasse alguma quantidade de dinheiro para começar a tratar de uma obra, de que não são capazes por falta de governo e diligência; e muito mais por ficarem logo na primeira safra tão empenhados com dívidas, que na segunda, ou terceira já se declaram perdidos: sendo juntamente cansa, que os que fiaram deles, dando-lhes fazenda e dinheiro, também quebrem e que outros zombem da sua mal fundada presunção, que tão depressa converteu em palha seca aquela primeira verdura de uma aparente, mas enganosa esperança.

E ainda que nem todos os engenhos sejam reais, nem todos puxem por tantos gastos, quantos até aqui temos apontado: contudo, entenda cada qual, que com as mortes, e com as secas que de improviso apertam e mirram a cana e com os desastres, que a cada passo sucedem, crescem os gastos mais do que se cuidava. Entenda também, que os pedreiros, e carapinas, e outros oficiais desejosos de ganhar a custa alheia lhe facilitarão tudo de tal sorte, que lhe parecerá o mesmo levantar um engenho, que uma senzala de negros; e quando começar a ajuntar os aviamentos, achará ter já despendido tudo quanto tinha antes de se pôr pedra sobre pedra, e não terá com que pagar as soldadas, crescendo de improviso os gastos, como se fossem por causa das enxurrada dos rios.

Também se não tiver capacidade, modo, e agência que se requer na boa disposição e governo de tudo, na eleição dos feitores e oficiais, na boa correspondência com os lavradores, no trato da gente sujeita na conservação, e lavoura das terras, que possui, e na verdade e pontualidade com os mercadores, e outros seus correspondentes na praça, achará confusão, e ignorância no título de senhor de engenho, donde esperava acrescentamento de estimação, e de crédito. Por isso, tendo já fatiado do que pertenceu ao cabedal, que há de ter, tratarei agora de como se há de haver no governo; e primeiramente da compra, e conservação das terras, e seus arrendamentos aos lavradores que tem; e logo da eleição dos oficiais que há de admitir ao seu serviço, apontando as obrigações, e as soldadas do cada um deles, conforme o estilo dos engenhos reais da Bahia, e ultimamente do governo doméstico da sua família, filhos, e escravos; recebimento dos hospedes, e pontualidade em dar satisfação a quem deve ; do que depende a conservação do seu credito, que é o melhor cabedal dos que se prezam de honrados.

Soneto I de Manuel Botelho de Oliveira

Captura de Tela 2013-10-16 às 08.21.25

Captura de Tela 2013-10-16 às 08.21.49

 

Invoco agora Anarda lastimado

Do venturoso, esquivo sentimento:

Que quem motiva as ânsias do tormento,

É bem que explique as queixas do cuidado.

 

Melhor Musa será no verso amado,

Dando para favor do sábio intento

Por Hipocrene o lagrimoso alento,

E por louro o cabelo venerado.

 

Se a gentil fermosura em seus primores

Toda ornada de flores se avalia,

Se tem como harmonia seus candores;

 

Bem pode dar agora Anarda ímpia

A meu rude discurso cultas flores,

A meu plectro feliz doce harmonia.

 

CARTAS ANIMAIS – JOGO

CARTAS ANIMAIS

INSTRUÇÕES

ALGUNS MAMÍFEROS E ALGUMAS AVES: VOZES, QUALIDADES E MUITO MAIS…

 

       O baralho é composto por 80 cartas coloridas além de 16 cartas brancas com as respostas que devem permanecer com o coordenador da atividade.

As 16 cartas lilases contêm os nomes dos mamíferos e das aves; as 16 cartas  verdes contêm uma qualidade ou atributo desses animais ou relacionados a eles. Por exemplo: em uma carta lilás temos “a galinha” , em uma cinza temos “garnisé”.

As 16 cartas rosas apresentam as vozes dos animais. Por exemplo: em uma carta rosa temos “crocita, corveja”  –  dois verbos relacionados à voz do “corvo”.

As 16 cartas azuis trazem expressões, ditados e provérbios relacionados aos animais. Por exemplo: “……….. tem medo de água fria”, refere-se ao “gato”.

As 16 cartas beges classificam os animais quanto ao número de sílabas e quanto à sílaba tônica. Por exemplo: a carta bege com a classificação palavra dissílaba paroxítona pode referir-se ao “pato” e ao “corvo”.

Como jogar?

O conjunto das cartas animais pode ser jogado por uma só pessoa como um “jogo de paciência”. Desta forma a tarefa do jogador é formar o conjunto de cartas que se refere a cada um dos 16 animais.

Se houver mais de um jogador, as 16 cartas lilases são embaralhadas e distribuídas entre eles. As demais cartas, depois de embaralhadas, são colocadas são colocadas voltadas para baixo no centro da mesa. Cada jogador, na sua vez, pegará a carta que estiver por cima do monte. Se interessar, aproveitará a carta na formação de um conjunto que irá colocando sobre a mesa. Se a carta não for necessária, será colocada sobre a mesa, voltada para cima, formando-se assim um monte com as cartas que forem sendo descartadas. O jogador seguinte poderá pegar a primeira carta do monte principal, ou , se lhe interessar, a primeira do monte de descarte. Quando terminarem as cartas, será feita a contagem de pontos, para se saber quem é o vencedor.

Valor das cartas

O  valor das cartas é estipulado pelo coordenador da atividade. Cada carta pode ter um valor específico, por exemplo, uma carta azul pode valer 2 pontos e uma carta bege pode valer 1 ponto.

Outras atividades

O professor ou o líder do grupo pode propor outras atividades. Por exemplo: desafiar cada participante a criar uma história envolvendo 3 animais tirados por sorte do conjunto de cartas animais.

Boa Sorte!

Nílvia Pantaleoni