Categoria: coordenação

Coordenação, correlação e paralelismo, segundo Othon Moacyr Garcia

Coordenação, correlação e paralelismo[1]

 

Coordenação é um processo de encadeamento de valores sintáticos idênticos. Os elementos da frase coordenados entre si devem – em princípio pelo menos – apresentar a mesma estrutura gramatical. Ou seja, a ideias similares deve corresponder forma verbal similar. Isso é paralelismo  ou simetria de construção.

O paralelismo nem sempre é seguido, pois o uso da língua justifica outras construções. O paralelismo é uma diretriz eficaz que, muitas vezes, melhora a frase, evitando construções incorretas ou inadequadas.

Em alguns casos, como no seguinte trecho, a ausência de paralelismo não invalida a construção da frase:

                  Estamos ameaçados de um livro terrível e que pode lançar desespero nas fileiras literárias.

Os dois adjuntos de “livro” – o adjetivo “terrível” e a oração adjetiva “que pode lançar…” – coordenados pela conjunção “e” não têm estrutura gramatical idêntica. O paralelismo pode ser observado na construção  com os adjuntos paralelos:

                  Estamos ameaçados de um livro que é terrível e que pode lançar…

                  Estamos ameaçados de um livro terrível e capaz de lançar…

O mesmo julgamento se pode fazer quando se coordenam duas orações subordinadas:

Não saí de casa por estar chovendo e porque era ponto facultativo.

Aqui também se aconselha o paralelismo de construção. Do ponto de vista estilístico, é preferível que as duas orações causais tenham estrutura similar:

Não saí de casa por estar chovendo e por ser ponto facultativo.

Não saí de casa porque estava chovendo e (porque) era ponto facultativo.

Se se adotasse o processo correlativo aditivo (não sómas também),  o paralelismo seria ainda mais recomendável:

Não saí de casa  não só porque estava chovendo mas também porque era ponto facultativo.

Não saí de casa  não só por estar chovendo mas também por ser ponto facultativo.

No exemplo seguinte rompeu-se totalmente o enlace correlato, não porque se usou ponto entre os dois elementos, mas porque se deu ao segundo uma estrutura não correlata do primeiro:

A energia nuclear não somente se aplica à produção da bomba atômica ou para fins militares. Sabe-se que pode ser empregada na medicina, comunicações e para outros fins.

A estrutura do segundo período é inadequada ao contexto por não lembrar de forma alguma o enlace correlato iniciado pelo “não somente”:

A energia nuclear não somente se aplica à produção da bomba atômica ou para outros fins militares,  mas também pode ser empregada na medicina, comunicações e para outros fins.

Os outros defeitos de construção decorrem igualmente da não observância do paralelismo:

A energia nuclear não somente se aplica à produção da bomba atômica ou a outros fins militares,  mas também pode ser empregada na medicina, nas comunicações e em outros fins.

No seguinte exemplo, coordenam-se indevidamente um objeto indireto e uma oração no gerúndio:

Nosso destino depende em parte do determinismo e em parte obedecendo à nossa vontade.

Frase incorreta por falta de paralelismo. Forma mais adequada e mais simples:

Nosso destino depende em parte do determinismo e em parte da nossa vontade.


[1] GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna. Aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 2.ed. RJ. Fund. G. Vargas: 1974.