Categoria: ensino

As Listas nas Aulas de Língua Portuguesa

Nílvia Pantaleoni

Introdução

O assunto que me interessa e que me proponho a tratar são as listas. Praticamente, não encontrei pesquisas relacionadas a elas. Por isso, a minha aparente indecisão inicial. Mas, decididamente, quero tratar das listas, das enumerações de todos os tipos que recebem etiquetas como: lista telefônica, lista de espera, cardápio, rol, catálogo, inventário, sumário, índice.

AS LISTAS NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

 

 

 

BALANÇO DA DISCIPLINA “ORALIDADE E ESCRITA: FUNDAMENTOS E ENSINO”

Oralidade e escrita programa 2015 é uma disciplina que abarca muitos conteúdos e muita possibilidade de prática. Acontece que a carga horária restringe-se a 32 horas e se divide em 8 aulas. Decisões precisam ser tomadas para que haja um real aproveitamento tanto por parte dos alunos quanto por parte da professora que também se beneficia com as interações.

Por sorte, a bibliografia básica é simples se levamos em consideração o estilo dos teóricos envolvidos com a Análise da Conversação, mesmo assim, ou por causa disso, compõe-se de obras extremamente pertinentes. Nesse sentido, as aulas da disciplina (final de fevereiro – início de abril de 2015) foram desenvolvidas com ênfase na prática, ou seja, os alunos foram, a partir da primeira aula, a campo para a constituição, cada um individualmente, de um corpus para servir de ponto de partida e de referência para os conceitos implicados na teoria.

Selecionamos o gênero entrevista para ilustrar os conceitos da Análise da Conversação. Como a turma era composta por 11 alunos, foram realizadas 11 entrevistas. Cada entrevista foi gravada e apresentada para o restante da turma. Cada um fez a transcrição de sua entrevista empregando as normas do projeto NURC.

No decorrer das aulas, os alunos e a professora procuraram discutir as características das modalidades oral e escrita da língua como parte de um continuum tipológico, tendo como perspectiva os diferentes gêneros textuais; analisar as produções discursivas tendo por base pressupostos da Análise da Conversação; e refletir sobre as possibilidades de operacionalizar o estudo da interação verbal no ensino da Língua Portuguesa. Para tanto, cada aluno ficou responsável por um tema relacionado aos objetivos da disciplina: variação linguística: dialetos, registros e norma; transformações no fenômeno sociolinguístico da gíria; como falam as pessoas cultas; a dimensão social das palavras; textos construídos na internet; o texto oral em sala de aula; tópico discursivo; turno conversacional; marcadores conversacionais; procedimentos de reformulação: paráfrase; procedimentos de reformulação: correção.

É esperado que os estudos da Análise da Conversação tomem como ponto de partida um texto falado. Tenho o hábito de, no decorrer das aulas, lançar para os alunos o desafio de transformar um texto de concepção escrita e de modo de produção também escrito em um texto de concepção falada e de modo de produção também falado. Tenho observado que essa atividade leva à percepção da riqueza da fala e das múltiplas possibilidades de uma mesma informação ou de um mesmo assunto ser desenvolvido. O desafio, realizado por duplas de alunos, constituiu-se, em transformar INSTRUÇÕES PARA MONTAGEM DE PASTA em DIÁLOGO – COMO SE MONTA UMA PASTA.

Foram realizados seminários para discussão das atividades e dos conceitos apresentados por autores fundamentais para nossa disciplina. Estas são as capas das edições que usei:MARCUSCHI DA FALA PARA A ESCRITA, KERBRAT-ORECCHIONI e Captura de Tela 2015-04-22 às 12.00.51.

Finalmente, para o trabalho de conclusão da disciplina (excertos, com permissão dos alunos, podem ser conferidos), a turma foi dividida em quatro duplas: Vanessa e Isac; Antônio e Willian; Juliana e Helton; Mônica e Mariana; e um trio:Edson, Elenilton e Marcos. Agradeço a toda turma o empenho e a colaboração em todas as nossas interações.

Os jogos de linguagem nas aulas de Língua Portuguesa

I LETRAS UFLA. Outubro de 2014

MESA REDONDA: LEITURA E ESCRITA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Os jogos de linguagem nas aulas de Língua Portuguesa

Nílvia Pantaleoni

Um dos componentes dos jogos de linguagem é o humor. Muitos autores defendem o humor nas aulas de língua materna como uma das maneiras de os alunos compreenderem determinados conceitos. Quando os alunos riem, é porque eles entendem a piada e têm condições de perceber o conceito que lhe dá sustentação.

A fonética e a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a semântica, a pragmática e a variação linguística, tudo isso pode ser tratado por meio do humor que, no meu entender, é um componente do jogo, ou seja, se estou me divertindo com algo que falei, que ouvi ou que li, é porque o evento foi constituído de forma lúdica.

Não preciso me preocupar a todo momento se estou agindo a partir dessa ou daquela teoria. Operar a partir de determinadas fundamentações teóricas e de suas respectivas metodologias é fundamental para quem faz pesquisa. O professor de sala de aula precisa adequar conteúdos e metodologias para a sua realidade e precisa ter a desenvoltura de transitar por diferentes teorias.

Quem usa jogos em suas aulas deve pensar, em primeiro lugar, no desafio, na competição saudável entre os jogadores; em segundo lugar, no conhecimento da dinâmica do jogo; em terceiro lugar, no domínio do conteúdo veiculado pelo jogo.

Os jogos podem tratar de conteúdos linguísticos variados: dos fonemas, das letras, dos morfemas, das palavras gramaticais, das palavras lexicais, dos sintagmas, dos enunciados. De qualquer conteúdo linguístico materializado em qualquer gênero de texto/discurso,  em diferentes situações comunicativas.

Se você planejar suas aulas e seguir o planejamento, reserve toda semana uma parte de uma aula para praticar os jogos. Os jogos são excelentes para o desenvolvimento cognitivo de qualquer pessoa. Do sudoku à palavra cruzada, do jogo de lógica à encenação de pequenos textos, tudo mobiliza nossos espaços mentais, ou seja, nossos pequenos conjuntos de memória de trabalho que construímos enquanto pensamos e falamos, enquanto agimos linguisticamente.

Huizinga, Lakoff, Wittgenstein, Crystal e Yaguello são autores que trataram dos jogos de linguagem.

Huizinga trata do jogo como elemento essencial à vida que, no entanto, distingue-se da vida “comum” tanto pelo lugar quanto pela duração que ocupa. A noção de jogo está presente em tudo o que acontece no mundo. Desde a mais remota Antiguidade, as atividades humanas são marcadas pelo jogo. Dentre elas, a atividade comunicativa, por meio do jogo da linguagem.

Lakoff trata da metáfora do cotidiano que empregamos em expressões corriqueiras como: Meu mundo acabou! Ele teve alta. Estou no céu. Minha vida é um inferno. Isso dá ensejo a jogos de linguagem que exemplificamos com o conhecido poema Inutilidades de José Paulo Paes:

Ninguém coça as costas da cadeira.

Ninguém chupa a manga da camisa.

O piano jamais abandona a cauda.

Tem asa, porém não voa, a xícara.

De que serve o pé da mesa se não anda?

(…)

Para Wittgenstein, falar uma língua é parte de uma atividade ou forma de vida exercida por meio de uma variedade imensa de jogos de linguagem: contar histórias, descrever, representar, agradecer, pedir, orar, todos são atos de linguagem formalizados por meio de jogos verbais.

Todo mundo joga com a linguagem ou responde a jogos de linguagem, afirma Crystal. Alguns sentem prazer com isso, outros são totalmente obcecados, mas ninguém pode evitar. A linguagem lúdica tem sido tratada como um tema de interesse marginal, ou, na pior das hipóteses, não é nem mencionada. No entanto, para o autor, ela deveria estar no centro de qualquer investigação sobre questões linguísticas.

Yaguello é especialmente feliz quando trata da função lúdica da linguagem. Para ela, o jogo integra a língua, e, reciprocamente, a língua integra o jogo, pois o homem é talhado fundamentalmente para jogar. Segundo a autora, duas orientações aparentemente contraditórias coexistem na natureza do jogo: a ideia de elasticidade, de liberdade, de margem de manobra; e a de regra e de ligação precisa.

A linguagem pode ser manipulada como uma fonte de prazer e não custa nada. Qualquer recurso linguístico pode ser manipulado (uma palavra, uma frase, uma parte de uma palavra, um grupo de sons, uma série de letras); pode ser distorcido; as regras da gramática, as regras da língua podem ser quebradas para nossa simples diversão.

Perceber que jogo com minhas palavras exige uma atenção que só ocorre por meio de meu esforço voluntário. Muitas pessoas extremamente competentes no manejo com a língua não percebem que, além de comunicar um dado novo, narrar um acontecimento, descrever um objeto, uma pessoa, uma situação, argumentar a favor de qualquer ideia, também jogam com os sons, com as palavras, com as frases. Os mecanismos empregados nesses jogos são usados pelos falantes nativos (dificilmente dominados pelos falantes de outros idiomas que aprenderam o nosso como segunda ou terceira opção) de modo natural e imperceptível.

Concluindo, os jogos de linguagem elaborados com finalidade didática apresentam-se com uma intencionalidade bem definida: promover e otimizar a competência comunicativa dos alunos. Por isso mesmo são atividades monitoradas, com conteúdo bem elaborado, com objetivos definidos e com todas as etapas controladas. A diversão fica mais por conta dos alunos. Para o professor que orienta, os jogos são coisa séria.

Anotações de aulas: A UNIDADE PARÁGRAFO (Primeira parte)

 A UNIDADE PARÁGRAFO (Primeira parte)

Eis algumas definições de parágrafo: parte de um texto escrito que desenvolve uma ideia básica e que se inicia com mudança de linha; divisão de um texto escrito, indicada pela mudança de linha, cuja função é mostrar que as frases aí contidas mantêm maior relação entre si do que com o restante do texto; e pequena parte ou seção de discurso, capítulo etc. que forma sentido completo e independente.

O parágrafo é uma unidade de composição do texto que apresenta uma ideia principal em torno da qual outras ideias são desenvolvidas. Há parágrafos longos e parágrafos curtos. Sua extensão é determinada principalmente pelo tema,  pelo objetivo e pelo estilo. Visualmente, o início do parágrafo deve se afastar da margem esquerda do texto ou fica separado dos demais por um espaço duplo. Este texto emprega o espaço duplo entre os parágrafos. Se empregasse o afastamento da margem esquerda, ficaria assim:

               Eis algumas definições de parágrafo: parte de um texto escrito que desenvolve uma ideia básica e que se inicia com mudança de linha; divisão de um texto escrito, indicada pela mudança de linha, cuja função é mostrar que as frases aí contidas mantêm maior relação entre si do que com o restante do texto; e pequena parte ou seção de discurso, capítulo etc. que forma sentido completo e independente.

            O parágrafo é uma unidade de composição do texto que apresenta uma ideia principal em torno da qual outras ideias são desenvolvidas. Há parágrafos longos e parágrafos curtos. Sua extensão é determinada principalmente pelo tema,  pelo objetivo e pelo estilo.

O tópico, ou seja, a ideia principal, introduz o assunto, apresentando o que será desenvolvido. O tópico é constituído de várias maneiras: declaração, pergunta, divisão, conceituação ou definição.

O desenvolvimento apresenta-se na forma de enumeração, detalhamento, exemplificação, analogia, contraste, ordenação temporal, apresentação de causas e consequências, testemunho.

A conclusão, nem sempre necessária, sintetiza o que foi apresentado.

Os dois exemplos[1], a seguir, não apresentam conclusão. No exemplo 1, o tópico apresenta uma declaração; no 2, apresenta uma declaração seguida por uma divisão. O exemplo 1 desenvolve-se por meio do detalhamento da declaração. O exemplo 2 desenvolve-se pela enumeração da divisão apresentada no tópico ou ideia principal.

O símbolo tradicional da medicina consiste em um bastão com uma serpente em volta. Representa o deus da medicina da civilização grega clássica. Em todas as esculturas e representações, recuperadas nas escavações arqueológicas ou preservadas nas ruínas dos templos a ele dedicados, o deus está segurando em uma de suas mãos um bastão com a serpente.

O simbolismo do bastão e da serpente tem dividido as opiniões dos historiadores da medicina. As seguintes interpretações têm sido admitidas. Em relação ao bastão: árvore da vida, com seu ciclo de morte e renascimento; símbolo do poder, como o cetro dos reis e o báculo dos bispos;  símbolo da magia, como a vara de Moisés; apoio para as caminhadas, como o cajado dos pastores. Em relação à serpente: símbolo do Bem e do Mal, portanto da saúde e da doença; símbolo da astúcia e da sagacidade; símbolo do poder de rejuvenescimento, pela troca periódica da pele; ser ctônico, elo entre o mundo visível e o invisível. 

Os exemplos[1] 3 e 4, respectivamente, apresentam como tópico, uma divisão e uma definição.  O exemplo 3 desenvolve-se pela enumeração da divisão apresentada no tópico. O exemplo 4 desenvolve-se pela apresentação de consequências advindas da definição apresentada no tópico. Além disso, o exemplo 4 apresenta, no último período, uma conclusão.

Dentre os mais célebres médicos  da escola de Salerno citam-se: Benevenuto Grasso, autor de Practica Oculorum, um manual de doença dos olhos que foi tido como texto clássico de oftalmologia durante quinhentos anos; Giles de Corbeil, que escreveu todas as suas obras em versos. Um dos poemas, “Carmina urinarum”, é dedicado à uroscopia, um dos métodos diagnósticos mais utilizados na época. Descreveu vinte cores diferentes de urina; e Rogerius Frugardi, cuja obra, conhecida por Cyrurgia Rogerii, foi posteriormente adotada em outras escolas. Nela existe a recomendação do uso de algas marinhas no tratamento do bócio.

A medicina já foi definida como “um conjunto de verdades provisórias”. Por isso mesmo ela se presta a mudanças de conceitos e condutas, na dependência do seu estágio de desenvolvimento e do envasamento teórico de que dispõe para fundamentar a prática médica. Por outro lado, por mais científica e técnica que ela seja, jamais consegue desvencilhar-se do seu componente de subjetivismo. Torna-se, assim, campo fértil para o aparecimento de modismos.


[1] IDEM.


[1] REZENDE, J. M. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina. SP: Unifesp, 2009.

Intertextualidade – Atividades

Intertextualidade: atividades

Ana Lúcia Tinoco Cabral

Nílvia Pantaleoni

O dicionário registra, para o verbete provérbio, o seguinte:

  1. Máxima breve e popular; adágio, anexim, ditado, refrão, sentença moral.
  2. Pequena comédia que tem por entrecho o desenvolvimento de um provérbio.

Provérbio é, portanto, um dito popular que contém uma mensagem que anuncia algo sobre a vida, geralmente de maneira metafórica e, algumas vezes, até irônica.

Os japoneses divulgam o seguinte provérbio: “Água à distância não apaga incêndio.” Sabendo-se que incêndio simboliza devastação, acidente muitas vezes fatal, e a água é o antídoto do fogo, uma forma de interpretar a metáfora japonesa é: enfrente seus problemas de perto.

Atividade 1: Traduza, por meio de paráfrases, o sentido contido em cada um dos seguintes provérbios:

  1. Cada macaco no seu galho.
  2. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
  3. Nem tudo o que reluz é ouro.
  4. Em casa de ferreiro o espeto é de pau.
  5. Em terra de cego, quem tem um olho é rei.
  6. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

********

Atividade 2: Pelo fato de os provérbios serem máximas populares com as quais as pessoas muitas vezes, não concordam, alguns escritores gostam de ironizar, de brincar com este tema.

Observe o pequeno conto de Voltaire de Souza, em que o autor brinca com o conceito de provérbio, criando uma máxima pessoal. Em seguida, escolha um provérbio e crie, no mesmo estilo do conto, sua própria história.

VIDA BANDIDA

Licor

Voltaire de Souza

O dia dos namorados se aproxima. Mas a vida de uma jovem executiva é agitada. Corina trabalhava numa multinacional. “Não tenho tempo nem para o supermercado.” Namorava um rapaz chamado Júlio. “O que é que eu compro para ele? Ele tem tudo… não gosta de nada.” Corina passeava entre as gôndolas. Produtos finos sempre agradam ao paladar exigente. “Será que o Júlio vai gostar deste licor de anis?” A dúvida não durou muito. Entrou no supermercado o assaltante Canhoto. “Levo a garrafa. E a tua grana.” Corina deparou no porte atlético do delinqüente. Paixão imediata e correspondida. Corina não mais se preocupa em dar presentes. “Quando ele gosta, ele leva.”

O verdadeiro amor não tem data e dispensa lembrancinhas.

Folha de São Paulo. 06/06/2000.

Variedades linguísticas: norma, correção e adequação. Apontamentos das aulas de Comunicação Empresarial (1)

I – Variedades linguísticas: norma, correção e adequação

Nílvia Pantaleoni

O uso adequado e eficaz da língua, nas mais variadas situações de comunicação, pressupõe uma competência pragmático-utilitária que emerge, não só da utilização de normas e convenções, mas também da conveniência de se distinguir entre uma variedade erigida em norma-padrão, institucionalmente reconhecida como tal, e outras variedades geográfica e socialmente diferentes e legítimas.[1]

 

A variação linguística existe, não podemos ignorar sua riqueza. A marca da diversidade deve ser considerada como algo positivo e ser incorporada aos nossos hábitos linguísticos à medida que nos adequamos ao momento interativo, ou seja, à situação comunicativa. Aliás, a adequação à situação comunicativa incorpora-se entre as máximas conversacionais, regidas pelo princípio de cooperação postulado pelo filósofo da linguagem H.P. Grice.

Grice observa que os falantes seguem um princípio cooperativo geral que orienta os usos eficientes da língua. Numa conversa e, podemos também dizer, numa interação por escrito, ou via internet, os interlocutores guiam-se – mesmo que disso não tenham consciência – por máximas da qualidade, da quantidade, da relevância e do modo. É evidente que elas são frequentemente desobedecidas, mas, num plano ideal, os interlocutores são cooperativos.

Como se dá essa cooperação entre os interlocutores? Como eles podem contribuir com o outro?

Falando só o que é verdadeiro, ou o que eles imaginam que seja verdade (máxima da qualidade); contribuindo com a informação necessária, não mais do que isso (máxima da quantidade); além disso, suas contribuições devem ser relevantes para o propósito da comunicação (máxima da relevância); e, o que mais nos interessa no momento, já que estamos tratando da variedade, da adequação e da correção linguística, ele deve ser claro, evitando a ambiguidade e a falta de clareza (máxima do modo).

Não é adequado o médico que, durante uma consulta, num posto de saúde, usa seu incompreensível jargão para se dirigir ao seu paciente, completamente leigo em assuntos de medicina. Ele será menos adequado ainda, e também extremamente inconveniente se tentar imitar, muitas vezes jocosamente a variante linguística de seu paciente. A adequação à situação comunicativa é perfeitamente possível, e, na maioria dos casos, esta adaptação acontece pelo fato de existir uma espécie de linguagem comum que todos os falantes dominam.

Dino Preti[2] afirma que uma linguagem comum do ponto de vista geográfico, usada, em tese, pelos falantes urbanos de cultura média, empregada no dia-a-dia, contribui para a unificação dos falares regionais, porque é compreensível em todas as regiões do país.

Nas aulas de Comunicação Empresarial, o que deve ser estudado? O que é adequado? Com certeza, não se ensina gramática normativa. Pressupõe-se que o aluno fale e escreva com segurança, pois deve dominar essa linguagem comum.

O aluno deve sentir-se seguro para se expressar em seus trabalhos por escrito produzindo, por exemplo, resumos, resenhas, relatórios, projetos, isto é, gêneros onde predominam seqüências tipológicas ou tipos textuais expositivo-argumentativos em geral, preocupando-se com a clareza, a concisão, a organização de seu texto, não perdendo de vista o interlocutor de seu texto que, na vida universitária, é quase sempre o professor e também seus colegas.

Também nas situações comunicativas orais, isto é, em seminários, apresentações de trabalhos e debates, alguns cuidados não só com o falar, como também com o agir em público devem ser levados em consideração. Para isso existem técnicas; a simpatia  de quem está ouvindo liga-se com o ethos de quem está falando. Falar bem, em voz alta, clara, pausada e convincente, por exemplo, faz parte da adequação à situação comunicativa de um seminário que os alunos preparam antecipadamente.

Participar de discussões e debates não é entrar num bate-boca para defender a todo custo seu ponto de vista, também não é ficar calado, alheio ao que acontece, querendo que tudo termine logo, porque nada daquilo lhe interessa. Participar de uma discussão é querer demonstrar seu ponto de vista aos seus interlocutores e, mais que isso, é tentar persuadi-los com a força de sua argumentação. Finalmente, também é saber ouvir e respeitar o ponto de vista do outro.

Nas aulas de Comunicação Empresarial, você aprimora suas técnicas de leitura, interpretação e produção de textos. Se você tem dificuldades específicas para se expressar por escrito, ou mesmo, oralmente, não perca a oportunidade de se dirigir ao professor que sempre tem material-extra com conteúdos específicos e exercícios que podem eliminar dúvidas. Não podemos ignorar que a educação linguística de qualquer falante nativo inicia-se na esfera íntima do lar, continua nas esferas públicas, abertas. Finalmente, o espaço ideal para o desenvolvimento da educação linguística são as instituições de ensino que aperfeiçoam, hierarquizam e rotulam as mais diversas atividades lingüísticas sociocomunicativas.

O que importa em relação à ética linguística que procuramos observar na instituição escolar, esperando que continue em qualquer situação nas diversas esferas das atividades humanas, é o respeito que devemos ter com o direito linguístico que todo cidadão possui de falar sem ser discriminado e, como alunos que têm como meta o aprimoramento de competências e a aquisição de novas habilidades, importa o crescimento como leitores, falantes e autores na língua que lhes pertence por direito de nascimento.

A língua portuguesa não é fácil nem difícil, mas é um idioma com potencialidades tamanhas que nem os imortais acadêmicos conhecem integralmente. Uma parcela de sua riqueza, de sua diversidade a qual estamos acostumados todos os dias, em todos os lugares, nas mais diversas situações, será tema de outros textos de Comunicação Empresarial, pelo menos, por dois motivos: como futuro profissional, o conhecimento da heterogeneidade da língua portuguesa é fundamental. Por isso, citando Evanildo Bechara, devemos ser poliglotas em nossa própria língua; e como falantes nativos de português que têm consciência de que devem ser cooperativos com seus interlocutores, devemos respeitar a situação comunicativa em que estamos inseridos.

Com os amigos, no trabalho, em casa, na rua, nos corredores da universidade, na sala de aula, nos trabalhos escritos, em uma comunicação mais formal, nos bate-papos da Internet. Cada tempo, cada ambiente, cada situação pede o uso de uma variação. O importante é que não nos esqueçamos da linguagem comum, informal, usada, em tese, pelos falantes urbanos de cultura média, empregada no dia-a-dia, para as situações mais frequentes de nosso cotidiano. Também é importante ter consciência de que a leitura de textos acadêmicos e a produção de trabalhos que o estudante universitário realiza são orientados pela variedade considerada culta da língua portuguesa, quando se emprega a linguagem dita formal.


[1] Guimarães, E. in: Dino Preti e seus temas: oralidade, literatura, mídia e ensino. SP: Cortez, 2001.

[2] Preti, Dino. Sociolinguística: Os Níveis de Fala. SP: Cortez, 2000.

Para testar suas habilidades de leitor proficiente

Para testar suas habilidades de leitor proficiente, tente preencher as lacunas do Primeiro Capítulo da Obra de Antonil

Você confere as respostas logo abaixo, neste mesmo post. Boa sorte!

Se preferir, baixe o arquivo.

 

0 ser  01 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, é título, a que muitos aspiram, porque traz consigo, o ser servido, obedecido, e respeitado de muitos.  E se for, qual deve ser, 02  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx; bem se pôde estimar no Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionadamente se estimam os títulos entre os 03  xxxxxxxxxxxxxxxxx Reino. Porque engenhos há na  04  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que dão ao senhor quatro mil 05  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, e outros pouco menos, com cana obrigada à 06  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, de cujo rendimento logra o 07  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx ao menos a metade, como de qualquer outra, que nele livremente se mói: e em algumas partes ainda mais que a metade.

Dos senhores dependem os 08  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que tem 09  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx arrendados em terras do mesmo 10  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, como os cidadãos dos fidalgos: e quanto os senhores são mais possantes, e bem aparelhados de todo o necessário, afáveis, e verdadeiros; tanto mais são procurados, ainda dos que não tem a 11  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx cativa, ou por antiga obrigação, ou por preço que para isso receberão.

Servem ao senhor de engenho em vários 12  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, além dos 13  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que têm nas fazendas e na moenda, e fora os mulatos e mulatas, negros e negras de casa ou ocupados em outras partes; barqueiros, canoeiros, calafates, carapinas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores. Tem mais cada senhor destes, necessariamente, um mestre de açúcar, um banqueiro, e um contrabanqueiro, um purgador, um caixeiro no engenho, e outro na cidade, feitores nos partidos, e roças, um feitor-mor do engenho: e para o espiritual, um 14   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx; e cada qual destes oficiais tem 15   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.

Toda  a escravatura  (que nos maiores engenhos passa o número de cento e cinquenta, e duzentas peças, contando as dos partidos),  quer mantimentos  e  fardas,  medicamentos,  enfermaria   e enfermeiro;  e para  isso  são  necessárias  16   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx de muitas mil covas de 17  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. Querem os 18   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, velames, cabos, cordas, e breu. Querem as 19   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que por sete, ou oito meses ardem de dia, e de noite, muita lenha; e para isso há mister dous barcos velejados, para se buscar nos portos, indo um atrás do outro sem parar, e muito dinheiro para a comprar; ou grandes matos, com muitos carros e muitas juntas de boi para se trazer. Querem os canaviais também suas barcas, e carros com dobradas esquipações de bois. Querem enxadas, e fouces. Querem as 20   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx machados e serras. Quer a moenda de toda a casta de paus de lei de sobressalente, e muitos quintais de aço e de ferro. Quer a 21   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx madeiras seletas e fortes para esteios, vigas, aspas e rodas; e pelo menos os instrumentos mais usuais, a saber; serras, trados, verrumas, compassos, réguas, escopros, enxós, goivas, machados, martelos, cantins, e junteiras, pregos e plainas. Quer a fábrica do 22   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx paróis e caldeiras, tachas e bacias, e outros muitos instrumentos menores, todos de cobre; cujo preço passa de oito mil cruzados, ainda quando se vende, não tão caro como nos anos presentes. São finalmente necessárias além das senzalas dos escravos, e além das moradas do capelão, feitores, mestre, purgador, banqueiro e caixeiro, uma 23   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx decente com seus ornamentos, todo o aparelho do altar e umas casas para o senhor do engenho com seu quarto separado para os 24   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que no Brasil, falto totalmente de estalagens, são contínuos; e o edifício do 25   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, forte e espaçoso, com as mais oficinas, e casa de purgar, caixaria, alambique, e outras cousas, que por miúdas aqui se escusa apontá-las, e delas se falará.

O que tudo bem considerado, assim como obriga a uns homens 26   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx a quererem antes ser 27   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx possantes de cana com um ou dous partidos de mil 28   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, com trinta ou quarenta 29 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx; do que ser  30 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx por poucos anos com a lida, e atenção que pede o governo de toda essa fábrica; assim, é para pasmar, como hoje se atrevem tantos a levantar 31   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, tanto que chegarão a ter algum número de escravos, e acharão quem lhes emprestasse alguma quantidade de  32   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx para começar a tratar de uma obra, de que não são capazes por falta de 33   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx; e muito mais por ficarem logo na primeira 34   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx tão empenhados com  35   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que na segunda, ou terceira já se declaram perdidos: sendo juntamente causa, que os que fiaram deles, dando-lhes fazenda e dinheiro, também quebrem e que outros zombem da sua mal fundada  36   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que tão depressa converteu em palha seca aquela primeira verdura de uma aparente, mas enganosa esperança.

E ainda que nem todos os 37   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx sejam reais, nem todos puxem por tantos gastos, quantos até aqui temos apontado: contudo, entenda cada qual, que com as mortes, e com as secas que de improviso apertam e mirram a 38   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx e com os desastres, que a cada passo sucedem, crescem os gastos mais do que se cuidava. Entenda também, que os 39   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx e outros oficiais desejosos de ganhar a custa alheia lhe facilitarão tudo de tal sorte, que lhe parecerá o mesmo levantar um engenho, que uma 40   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx de negros; e quando começar a ajuntar os aviamentos, achará ter já despendido tudo quanto tinha antes de se pôr pedra sobre pedra, e não terá com que pagar as soldadas, crescendo de improviso os gastos, como se fossem por causa das enxurrada dos 41  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.

Também se não tiver capacidade, modo, e agência que se requer na boa disposição e governo de tudo, na eleição dos 42   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, na boa correspondência com os lavradores, no trato da gente sujeita na conservação e compra das 43   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que possui, e na verdade e pontualidade com os mercadores, e outros seus correspondentes na praça, achará confusão, e ignorância no título de 44   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, , donde esperava acrescentamento de estimação, e de crédito. Por isso, tendo já fatiado do que pertenceu ao 4   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que há de ter, tratarei agora de como se há de haver no governo; e primeiramente da compra, e conservação das 46   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, e seus arrendamentos aos lavradores que tem; e logo da eleição dos oficiais que há de admitir ao seu serviço, apontando as obrigações, e as 47   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx de cada um deles, conforme o estilo dos engenhos reais da 48   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, e ultimamente do governo doméstico da sua 49   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, filhos, e escravos; recebimento dos hospedes, e pontualidade em dar satisfação a quem deve ; do que depende a conservação do seu crédito, que é o melhor 50   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx dos que se prezam de honrados.


 

açúcar

Bahia

Bahia

barcos

bastante cabedal e de bom juízo

cabedal

cabedal

cana

cana

capela

carpintaria

dinheiro

dívidas

engenho

engenho

engenho

engenhocas

engenhos

escravos de enxada e fouce

escravos de enxada e fouce

família

feitores e oficiais

fidalgos do Reino

fornalhas

governo e diligência

homem de cabedal e governo

hóspedes

lavradores

lavradores

mandioca

moenda

ofícios

pães de açúcar

pães de açúcar

partidos

pedreiros e carapinas

presunção

rios

roças

sacerdote seu capelão

safra

senhor de engenho

senhor de engenho

senhores de engenhos

senzala

serrarias

soldada

soldadas

terras

terras

 Atenção:

Cabedal: Conjunto de bens e riquezas materiais; capital

Soldada: Quantia que se paga a um trabalhador por um serviço; soldo

 

Respostas:

22

açúcar

04

Bahia

48

Bahia

18

barcos

26

bastante cabedal e de bom juízo

45

cabedal

50

cabedal

11

cana

38

cana

23

capela

21

carpintaria

32

dinheiro

35

dívidas

07

engenho

10

engenho

25

engenho

31

engenhocas

37

engenhos

13

escravos de enxada e fouce

29

escravos de enxada e fouce

49

família

42

feitores e oficiais

03

fidalgos do Reino

19

fornalhas

33

governo e diligência

02

homem de cabedal e governo

24

hóspedes

27

lavradores

01

lavradores

17

mandioca

06

moenda

12

ofícios

05

pães de açúcar

28

pães de açúcar

09

partidos

39

pedreiros e carapinas

36

presunção

41

rios

16

roças

14

sacerdote seu capelão

34

safra

01

senhor de engenho

44

senhor de engenho

30

senhores de engenhos

40

senzala

20

serrarias

15

soldada

47

soldadas

43

terras

46

terras

 

CARTAS ANIMAIS – JOGO

CARTAS ANIMAIS

INSTRUÇÕES

ALGUNS MAMÍFEROS E ALGUMAS AVES: VOZES, QUALIDADES E MUITO MAIS…

 

       O baralho é composto por 80 cartas coloridas além de 16 cartas brancas com as respostas que devem permanecer com o coordenador da atividade.

As 16 cartas lilases contêm os nomes dos mamíferos e das aves; as 16 cartas  verdes contêm uma qualidade ou atributo desses animais ou relacionados a eles. Por exemplo: em uma carta lilás temos “a galinha” , em uma cinza temos “garnisé”.

As 16 cartas rosas apresentam as vozes dos animais. Por exemplo: em uma carta rosa temos “crocita, corveja”  –  dois verbos relacionados à voz do “corvo”.

As 16 cartas azuis trazem expressões, ditados e provérbios relacionados aos animais. Por exemplo: “……….. tem medo de água fria”, refere-se ao “gato”.

As 16 cartas beges classificam os animais quanto ao número de sílabas e quanto à sílaba tônica. Por exemplo: a carta bege com a classificação palavra dissílaba paroxítona pode referir-se ao “pato” e ao “corvo”.

Como jogar?

O conjunto das cartas animais pode ser jogado por uma só pessoa como um “jogo de paciência”. Desta forma a tarefa do jogador é formar o conjunto de cartas que se refere a cada um dos 16 animais.

Se houver mais de um jogador, as 16 cartas lilases são embaralhadas e distribuídas entre eles. As demais cartas, depois de embaralhadas, são colocadas são colocadas voltadas para baixo no centro da mesa. Cada jogador, na sua vez, pegará a carta que estiver por cima do monte. Se interessar, aproveitará a carta na formação de um conjunto que irá colocando sobre a mesa. Se a carta não for necessária, será colocada sobre a mesa, voltada para cima, formando-se assim um monte com as cartas que forem sendo descartadas. O jogador seguinte poderá pegar a primeira carta do monte principal, ou , se lhe interessar, a primeira do monte de descarte. Quando terminarem as cartas, será feita a contagem de pontos, para se saber quem é o vencedor.

Valor das cartas

O  valor das cartas é estipulado pelo coordenador da atividade. Cada carta pode ter um valor específico, por exemplo, uma carta azul pode valer 2 pontos e uma carta bege pode valer 1 ponto.

Outras atividades

O professor ou o líder do grupo pode propor outras atividades. Por exemplo: desafiar cada participante a criar uma história envolvendo 3 animais tirados por sorte do conjunto de cartas animais.

Boa Sorte!

Nílvia Pantaleoni